Depois de o dizer alto e bom som, em coro bem sincronizado, no amplo espaço universitário, agora, se disputa entre universidade, advogados, juízes e a cega da balança.

Antes, muitos a disseram puta e condenaram suposta 'falta de pudor'. Mas que é pudor? Para o Houaiss há quatro acepções. Tomo-lhe a segunda por me parecer a mais adequada: "sentimento e atitude desenvolvidos por uma educação rígida calcada em conceitos culturais, geralmente de base religiosa, que impedem que certas partes do corpo sejam expostas com naturalidade, sem constrangimento [A amplitude e a distribuição dessas partes variam de acordo com as culturas.]".

Se os tais conceitos são culturais, são necessariamente humanos e Nietzsche talvez os dissesse "demasiadamente humanos". De fato, jamais vi qualquer outro animal envergonhar-se de seu corpo, ou procurar esconder de outros olhares parte alguma de sua anatomia.

Em verdade, vivia-se aqui com pouquíssima ou nenhuma indumentária e a ninguém causava espanto a exposição de suas "vergonhas", como contou ao rei de Portugal, o Caminha: "E uma daquelas moças era toda tingida de baixo a cima, daquela tintura e certo era tão bem feita e tão redonda, e sua vergonha (que ela não tinha!) tão graciosa que a muitas mulheres de nossa terra, vendo-lhe tais feições envergonhara, por não terem as sua como ela."

Mas isto foi há mais de cinco séculos e, hoje, se quer punir quem faz corar os pudibundos sem urucum ou os que fingem tal sentimento e a disputa vai parar em tribunais (e não nas escadarias que levam às salas de formação de especialistas em turismo em um país muito conhecido pela exigüidade de seus biquínis). Seria a saia da moça mini demais?

Não tem erro, "geralmente", e aqui em particular, logo se vê a "base religiosa" a atiçar tanta confusão.