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Droga24/07/02A FAU inaugurou o campus da ilha do Fundão em julho de 1961. No ano seguinte, alguns alunos ali descobririam um deserto repleto de possibilidades e convites à explorações. Havia um lado tenebroso, nos esqueletos das faculdades de engenharia e medicina e no terminal da Petrobrás e outro fascinante, nos mangues de fundo de baía e no horto, o viveiro de mudas para a cidade universitária. Lá, entre brotos e a transparência das folhas jovens, muitas vezes nos abandonávamos a nossa própria juventude, longe de épuras e capitéis jônicos, dóricos e sei lá que mais. Entre os meninos classe média, se destacava um, mais pobre - o que quase sempre se menciona por metáforas e eufemismos, como se pobreza fosse opção e defeito. Como nos filmes e histórias em quadrinhos, ele vinha da zona norte e nós, da zona sul. Trazia um pouco da realidade de Coelho Neto, da baixada fluminense. Falava pouco, mas quando o fazia catalisava mentes e corações - ou a atenção, como se costuma dizer e, muitas vezes, parecia portador de uma boa nova, que jamais se tornou explícita. Havia alunos que idolatravam automóveis. Outros, obstinados pelo estudo, nunca saíam do grande edifício de grandes vidros suíços, ao que se dizia. Por outro lado, uma meia dúzia, pouco mais, escolhera a imensidão da ilha quase deserta e pouco ia ao prédio da faculdade. Um dia o mensageiro de Coelho Neto, falou como profeta a esse grupo, no horto. Falou de uma realidade que não existia para nós: do mundo das drogas. Realidade que ele via bem perto de sua casa. Esboçou previsões do que os noticiários e as ruas, hoje, nos mostram. Mencionou um mundo sob o jugo da droga. Como visionário, olhava e apontava a cidade do outro lado do estreito braço de mar. Dali, no primeiro plano, só existia o mangue. Hoje, está parte do "Complexo do Alemão". |
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