Publicação esporádica, a perder-se como berro de vaca, que todavia muge, apesar da inutilidade declarada de seu berro.

É bonita

27/01/06

Tamborilam sobre folhas largas gotas que caem de leve do beiral. Do outro lado, um balde jogado vira caixa, o instrumento, sob pingos ora mais espaçados, ora a ruflar como em banda que desfila. Chove e pára. Na madrugada o frio obrigou a procurar mais agasalho...

De gustibus etc. - mas parece que todos preferem temperaturas mais baixas! Eu, se pudesse regular o termostato destas bandas, não permitiria menos de 24 graus a nenhum pretexto e colocaria como default uns 30 ou 32. Por isso os romanos já sabiam que cor e gosto é coisa muito pessoal e independe de opiniões.

A mim parece que o frio já bate a nossa porta, mas ouço de todo lado suspiros de alívio pelo calor que se foi. O outono nos manda seu cartão de visitas. Logo virá como abre alas do inverno, o longuíssimo inverno do sul. Em verdade, em verdade o que já tenho é saudade precoce do verão, destes escassos dias que tivemos com temperaturas deliciosas, para mim, ainda longe dos 40 graus. Questão de gosto.

"Ou de mau gosto" - diria minha sogra postiça. Nestes dias quentes várias pessoas me ligaram para falar do calor, sabem que gosto de dias assim, de gustibus et coloribus etc. Tenho muitos amigos, os melhores talvez, que não suportam tais temperaturas, dias cariocas de Rio 40 graus. Alguns gostam, e declaram isso, gostam do frio! Não se discute. Têm ar condicionado e preferem o ambiente que aconchega filés e picanhas.

Claro que a vida só existe em um fio de navalha. Morrem centenas de frio agora, ao norte. Mas também se morre de febre e, na França, o calor matou muitos velhos em um desses verões passados.

A vida depende da harmonia de uma infinidade de ninharias que se equilibram, como as estrelas não se chocam umas com as outras. Quando olho tudo isto quedo quieto e só sei repetir como Gonzaguinha: "É bonita, é bonita, é bonita".

|home| |índice das crônicas| |mail| |anterior|  

2453762.662