21/01/00
Imagem do Observatório de Americana
Uma coisa perturbou definitivamente o Imperator Brasilis: constatar que, rigorosamente no horário previsto pelos astrônomos, a sombra da Terra se projetou sobre a Lua.
Num primeiro impulso, vossa excelência - minha não! - quis subir no pau da bandeira monumental, para destacar sua sombra na multidão ignóbil. Queria, vossa excelência - minha não! - acenar lá do alto, para marcar século e milênio, como os de seu doidivano reinado. Doido e vão, porém real! Perco a virgindade -teria dito - mas defendo, até à infalível, a honra do realzinho.
A Imperatriz Brasiliensis e sua psicologia pro-fundo de assistência e quintal, logo desviou a atenção do Imperator com uma questão transcendental: não seria o monumento a JK, o arqui-rival, lá mesmo na terra fértil de falcatruas e fantasias, mais alto do que o pau da bandeira? Que bandeira! O senhor dos planaltos e ventos sequíssimos ficou furibundo: morria de inveja do mineiro descalço. Que bandeira!
Depois, a boa senhora, deu uma de craque - não, dona Sabrina, que grande confusão! Ela não deu... quer dizer, deu.. isso é: não assim, dar... e tem outra coisa, craque, dona Sabrina, esse craque aqui, é aquele craque que tá faltando, hoje em dia, nos campos de futebol, sabe, dona Sabrina? sabe? - e ela, deu uma de craque e desviou, de novo, a atenção do amo e senhor: Oh, Fernandinho da mamãe, será que esses astrônomos tem bola de cristal? Por que não erram em previsões feitas há tantos séculos? Acertam até os minutinhos, né? O segundos, até! Fernandinho, por que o Malamor erra tanto? Pode se dizer que ele erra tudo, né. Você lembra de alguma que ele acertou?
O imperador se reclinou sobre o divã esculpido em livros. Com o cacho de uvas na esquerda, apontou a Lua meio escondida na sombra da Terra e explicou: bobagem, minha cara, bobagem. O Malamor fala o errado pelo certo e diz o certo como falso por pura estratégia. Estratégia, mulher. Vá! Mulher não pode mesmo saber dessas coisas. Vê o astro. Falam de eclipse. Pura estratégia. Trata-se apenas do PQP-3K, o Plano Quarto-crescente com Processador Pentium Millenium 3000, o bug do futuro!
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