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Efeitos especiais03/10/02Manhã lilás. Por instantes o amanhecer incomum, com misteriosa cor arroxeada por toda a vastidão do céu, imitou os efeitos especiais do cinema, mas logo a cor esmaeceu e se fez rosada a nos parecer banal. Ora, diria a leitora perspicaz, há alvoradas e ocasos lilases a três por dois. Sim, por certo, mas se menciono o de hoje em particular é porque também existe uma infinidade de tons violáceos, milhares, milhões de lilases e à tonalidade dessa manhã se soma singular luminosidade, como disse, alguns segundos de efeitos especiais muito especiais. Logo a imensidão se fez branca e coberta de nuvens, como tem sido todas as manhãs. Faltavam dez minutos para o nascer do sol, hoje, às 5 horas e 46 minutos do lado de cá do fim do mundo, quando a cor alucinógena tingiu a abóbada. Ao contrário de outras manhãs, cismo, deve haver uma camada de nuvens com espessura, densidade, altura e tudo para a transformar em filtro um filtro de efeito, como os dos refletores nos palcos. Uma cantoria maior de muitos passarinhos parecia celebrar a estranha luminosidade mas, talvez, seja apenas falha de observação. Os primeiros raios de sol só vieram muito tempo depois, às oito horas, mais ou menos. Trouxe um canto insistente e penetrante de pássaro, que não o conheço por nome ou apelido. Com um sol indeciso o dia seguiu a monotonia de sempre. O presidente Bucho, pressionado por cobiça, sua ou de credores, a afiar unhas e dentes na mobília de parceiros. Jogadores a apostar na vitória do líder sindical e tecer lucros futuros e outras abstrações recheadas de cifrões. O poder a escorrer por foça da gravidade, em todas as acepções, a escorrer pelo ralo para cair no colo dos quem têm dinheiro e o pode mostrar. O do governo bateu asas e migrou, dorme em berço de ouro, ou o ouro é que dorme em berço esplêndido, quer dizer... |
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