Efêmeras Quimeras
17/10/16
– Se ao menos tivesse um Deus... - suspirou consigo, após se largar no sofá, estirado, fechar os olhos e deixar as mãos caírem ao acaso sobre o ventre. Logo, pensamentos apressados decolaram como se aproveitassem correntes ascendentes de vãs filosofias. – Poderia lhe informar de minha prontidão: cá estou assaz preparado para entregar-lhe o que de mim sobrar, chamem-lhe alma, espírito ou como preferirem, mas... não tenho a Quem me dirigir e torna-se impossível, assim, tal entrega... A seguir ajeitou uma almofada pequena sob a nuca e abandonou-se entre ideias estapafúrdias e projeções quase cinematográficas, sempre a acompanhar com o rabo do olho a incontrolável loquacidade de sua mente – ou seria este um atributo universal? Estariam todas as mentes o tempo todo a tagarelar descontroladas e a forjar efêmeras quimeras como as suas? Entre tais fabulações lhe acudiu uma cena de cinema na qual a personagem, sufocada pelo trânsito engarrafado, parado dentro de um túnel, por fim escapa em levitação do carro, das pessoas, do próprio túnel para pairar entre nuvens qual pipa empinada bem alto - leve, livre, como o espírito ou alma ou o que fosse a ofertar a um Deus que não tinha... e suspirou como antes: "Ah, se ao menos o tivesse..." e, antes de abrir os olhos, se espreguiçou longamente como os gatos costumam fazer. Levantou-se da areia morna da praia perguntando-se como pudera ajeitar de forma tão aconchegante uma almofada inexistente enquanto seus olhos percorriam devagar o horizonte impreciso. O horizonte! Risco imaterial a separar céu e mar! Um horizonte amplo sempre lhe parecia, em si, algo como meditação ao perscrutar sem pressa as fronteiras da visão... Mas logo se interrompeu – Meditação? Eu não sei o que é meditação... percebo apenas essa matéria sujeita à gravidade e tão difícil de transportar... Quiçá continuará... |
Tue, 25 Oct 2016 15:14:25 -0200 Belíssima! Oi, Rô, |
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