desenho de Lu Guidorzi
basta um clique! 

berro - a parte inútil da vaca
Publicação esporádica destinada a perder-se como berro de vaca que, todavia muge, apesar da inutilidade declarada de seu berro.

É carnaval

08/02/02

Lusco-fusco. Há termos que dá gosto pronunciar. Experimente: lusco-fusco, hora do crepúsculo vespertino, o anoitecer. Para os lados do poente sobra um rasgo de claridade na noite escura, cheia de nuvens densas e excesso de umidade a gotejar.

Dali para o norte deve ser o país tropical, onde começam o sertão, a caatinga, a chapada e a floresta virgem e imaculada. Além da linha imaginária deve se estender o reino das Passárgadas, a morada de profetas e visionários, lá deve ficar o dormitório dos loucos e das mulheres deslumbrantes.

Chega a coruja em vôo silencioso e vulto gigantesco. Pousa no tronco morto do ipê e, no lusco-fusco, se torna um ramo, um gato, um naco de mato. Roda a cabeça como o farol da barra. Longe, pra lá do horizonte, está a cordilheira e mais além, o Pacífico. Às costas, o Atlântico, a África, Greenwich.

Soldadinhos de chumbo, em fantasias impecáveis, desfilam para o olhar cansado da monarquia desmilingüida. Big bang! Eram tambores a internet dos pigmeus do Fantasma? Ecoam surdos no Trópico de Capricórnio e a realidade é virtual. Em que meio a virtude está?

No ipê, a coruja é mais e mais um grande gato no engano das aparências, como o couro plástico dos tamborins ou os seios de silicone da moça ou o sorvete de cera das vitrines, que trapaceia com as crianças. Cessa a cantoria de grilos. Vai-se a coruja, enorme a cobrir com as asas o céu.

A rede traz a pergunta que é quase um protesto: "... mais um daqueles períodos de alegria coletiva. Fico como um peixe fora d'água. Preciso estar feliz agora? preciso sentir vontade de dançar e cantar?" Alegria? E o tempo de amar o próximo derreteu-se com as últimas neves natalinas? Agora a ordem é de ir atrás do trio, da sambíssima cidade ou frevar ao fervor de marqueteiros a avisar à freguesia que mercadoria antes do prazo pode pôr atrás das grades? Saravá!

 

|home| |índice das crônicas| |mail| |anterior|

2452314.359