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Ei, você aí

20/05/10

O rádio anuncia temperatura de treze graus nesta manhã. Dentro de casa o termômetro indica dezoito graus. Logo ela cairá e, depois, levará também alguns dias para igualar a exterior, quando o calor voltar de férias.

Também pelas ondas hertzianas fico sabendo de um novo dispositivo assim descrito: ao se aproximar de uma vitrine, num shopping, por exemplo, o celular toca e, ao atender, a vítima vê mensagens com ofertas daquela loja! O comentarista informa ainda que, em breve, estes dispositivos, cujo nome não entendi, "se multiplicarão exponencialmente", palavras dele e, como conseqüência, cada celular poderá ser rastreado pela rede dos sensores usados na localização e assédio publicitário.

George Orwell não foi capaz de imaginar tamanha maldade, mas seu horizonte era apenas 1984. Para que pulseiras (não deveriam chamar-se tornozeleiras?) nos tornozelos dos prisioneiros? Teremos todos nossos rastreadores no bolso ou na bolsa. E o velho samba (seria marchinha?) ecoará com mais vigor nas entrelinhas: "Ei, você aí, me dá um dinheiro aí".

Desliguei o rádio depois da notícia, com a suspeita de que ele também fizesse parte de um dissimulado sistema de 'controle público da mente'. Há muito o desconfio por causa da copa e não de alguma copeira ajeitadinha, em uniforme talhado para lhe sublinhar silhueta, não, pois o show será de marmanjos truculentos a dar pontapés na bola e nos colegas enquanto metade da humanidade quedará bestificada, unida por televisores, entre gritos, suspiros e ribombar de rojões.

Poderoso catecismo nos convenceu da importância transcendental e vantagens incomparáveis do futebol, que prescinde de leões e cristãos para comungar emoções.

Seja pastor ou deputado, prostituta ou comunicador, todos se unem ao coro: "Ei, você aí, me dá um dinheiro aí, me dá um dinheiro aí".

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