Um vento obstinado conduz nuvens de oeste para leste. Não é uma manada compacta e o céu se alterna entre um azul puríssimo e um nublado ameaçador. Faltam pouco mais de três horas para o equinócio de setembro...
Do lado de cá do fim do mundo, a primavera vai estrear com um sorriso maroto entre farrapos de inverno e os eternos sonhos de verão. Elejo a cantoria transcendental deste sabiá, aqui, agora e a florada branca, de um branco que nenhum sabão em pó imaginou, de um arbusto a que chamaram 'véu de noiva', hoje, coberto de renda alvíssima, como audiovisual para a estréia.
Marco aprazado, no fluir de mão única do tempo, para 15 horas e 44 minutos de hoje, hora universal, a que vale para Londres e adjacências, quando por um instante, o eixo de rotação da Terra fica perpendicular aos raios do sol ou, para quem preferir, o plano do equador terrestre, a eles paralelo. Assim como no movimento do pêndulo, ele está, por um momento, eqüidistante dos extremos ao passar pela vertical.
equinócio de setembro de 2008
Neste instante, é equânime a distribuição de luz e calor. É a única ocasião em que os dois pólos recebem, juntos, a luz do sol. Em toda parte, dia e noite, também, se repartem iguais, de onde se batizar de equinócio a efeméride. Também explica porque se viu uma balança na constelação correspondente ao período no céu de dois mil anos atrás, e que os astrólogos teimam em usar hoje, o sol. No céu de hoje o sol aparece contra a constelação de Virgem.
Em meio a tanta desigualdade, tamanhas desproporções e os desequilíbrios brutais a nossa volta, é bem-vinda a imagem, implícita neste momento singular, de repartir por todos, em partes iguais.
Viva a primavera! Que se cumpram os desígnios milenares de crescer e multiplicar e se multipliquem véus rendados em toda sorte de noiva e se cantem cantos como canta o sabiá.
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