cronista em desenho de Vicente Kubrusly (29-05-78) 

Errata, a crônica

15/10/08

À guisa de brincadeira, a leitora pergunta "por que não fazer uma crônica com o título Errata?" Sim, digo eu, por que não? Afinal, de erro em erro se tece a crônica por si. No primeiro, chamei de ópera um poema sinfônico, no segundo, atribuí a falha ao computador: a loção desaparecida, não o líquido, mas a palavra e, ontem, foi a troca de estações em todos os sentidos que o leitor quiser.

Assim a crônica se esboça como os três cavalheiros de chapéu na mão a acudirem Terezinha de Jesus na queda em que foi ao chão. É muita errata em pouco tempo!

Deparei-me com a palavra, pela primeira vez, em um livro de meu pai, de capa dura e marrom e, possivelmente com um carimbo vermelho, redondo, pequeno da 'Livraria Moderna de Guimarães & Sobrinhos - Maranhão'. A ERRATA vinha em folha avulsa, menor que as páginas, colada na primeira e cobria até o título da obra. Impossível duvidar de sua importância e era fácil perceber sua função.

O dicionário define com elegância e precisão errata: 'documento, feito para acompanhar uma obra posteriormente à sua publicação, em que estão elencados os erros desta, bem como a sua correção', diz o Houaiss.

Toda hora se repete 'errare humanum est'. Quase sempre, o diz quem errou. Melhor seria ouvir da testemunha do deslize, da platéia. Hoje, erro com naturalidade sem dizer humana a gafe, mas já fui perfeccionista obcecado, até aprender que o perfeccionismo vitima o perfeccionista.

Inveja dos deuses? Sei-me não deus e humano e falível, erro. Se o percebo, aponto a inexatidão e até me divirto se riem de mim, como quando outra leitora, diante do último equívoco, exclamou: "Hahaha, como assim onde está outono leia primavera? O que vc confundiu? A estação ou a palavra? Hahaha".

Em caso de dúvida arrisque: sabe-se melhor o arrependimento por errar do que por não tentar.

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