Errare humanum est - e diz-se logo em latim, para parecer que é erro dos outros. É fácil errar, tão fácil quanto fingir que não há erro ou que foi outro quem errou. Posto o intróito, eis o erro que o explica e justifica: por anos anotei as palavras que não encontrava no dicionário. Na lista, de tudo. Eu a via como eventual sugestão a um futuro dicionário. Lá estava, por exemplo, "gingle". Quando anotei não me ocorreu, claro, procurar por "jingle" e devo ter ficado surpreso por palavra tão ouvida não estar no dicionário. Depois que anotei, esqueci. Ontem, ao rever a página antiga, para assinalar verbetes que o Vocabulário Ortográfico Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, muito eficiente nas consultas pela internet, abona, dei de cara com a aberração. Como bom eremita, só pude comentar a barbaridade com meu cão. Corri a corrigir o erro. Pensei nas pessoas que passaram por ele e nunca o mencionaram. Imaginei sorrisos irônicos e zombeteiros engolidos por polidez: "gingle"! - e ainda se mete a aprendiz de cronista... A página está lá, com mais de 200 entradas e deve ter mais erros. Ela começou muito antes dos computadores, com um presente maravilhoso de uma amiga inesquecível. Ganhamos o "Aurélio", a primeira edição, que acabava de sair. Por ser como sou, logo comecei a anotar, na terceira capa, as palavras que não encontrava no livro. Ali, aconteceu outro caso igual, a provar a fama da teimosia asinina. Um belo dia, meu pai viu a lista na contracapa e, sem nada dizer, corrigiu com letra inconfundível um "ch" por um xis, no nome que se dá, no Brasil central, aos pequenos diamantes usados nos instrumentos de cortar vidro e, na Bahia, em jóia de outra natureza, embora neste caso não seja palavra de se dizer em qualquer lugar: xibiu. Aliás, ele mesmo repetia que errar é humano, insistir no erro, não. |
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