basta um clique!
Publicação esporádica destinada a perder-se como berro de vaca que, todavia muge, apesar da inutilidade declarada de seu berro.
A esquina
17/04/01
"aspas"
"Que iremos fazer neste mundo, como entes humanos, quando houver desaparecido de todo a idéia de alma, de reencarnação, da existência contínua de um dado indivíduo?"
Krishnamurti em palestra em Bombaim, 20 de fevereiro de 1966
Verde-azul de fantasia de escola de samba. Furta-cor, refletiva, sem o brilho metálico de muitos insetos e alguns beija-flores, mais parecida com as asas das borboletas azuis. De todo modo era uma vespa escandalosa. Chamava a atenção pela cor e pela tarefa: arrastava uma barata viva, ou quase viva! Arrastava ou, de alguma forma misteriosa, obrigava a barata a segui-la, passo a passo. Caminhando de marcha a ré, a vespa pegava sua presa com as mandíbulas, pela cabeça. A barata era três ou quatro vezes mais larga que a vespa e um pouco mais comprida.
A caçadora que, provavelmente, já inoculara veneno na vítima, parava, largava a barata, imóvel, para estudar o acidentado terreno às suas costas, por assim dizer. Depois voltava, pegava a barata pela cabeça e continuava o percurso. Fantástico é que a barata, viva, fazia os movimentos de pernas para caminhar, acompanhando sua assassina, mas não tentava escapar, quando a vistosa vespa a abandonava para examinar o terreno. Assim foram até sumirem pela fresta de uma tampa, rumo aos subterrâneos das calçadas.
Provavelmente, aquela barata permaneceria viva e imóvel até a eclosão dos ovos da vespa. Era para isso, certamente, tanto trabalho. Depois, minúsculos vermes sairiam dos ovos e começariam a comer a refeição que mãe preparou. Com muitas trocas de peles - os insetos só crescem assim, pois a pele é o esqueleto que os aprisiona num tamanho rígido - depois das trocas, dizia, e das complicadas fases que seriam a adolescência lá deles, emergiria, enfim, uma vespa, como a mãe, escandalosa, azul esverdeado, furta-cor de escola de samba, sem brilho metálico de inseto ou beija-flor e mais parecida com asas de morpho, aquela incrível borboleta azul, linda, escandalosa também, muito usada para fazer bandeja.
Hoje, a alta tecnologia imita asas e fantasias de insetos nas luminosas telas gigantes das esquinas, como a que fica a poucos metros do lugar onde a vespa escandalosa escondeu a barata, viva e imóvel, para seus filhinhos, a da Faria Lima com a Juscelino, onde as pessoas tem mais o que olhar e não vão perder tempo com insetos.
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