basta um clique!
Publicação esporádica destinada a perder-se como berro de vaca que, todavia muge, apesar da inutilidade declarada de seu berro.
|
|
Estações02/05/05Folhas tenras, verde-alface, colorem pontas de galhos velhos, escuros de tão molhados e quase nus de folhas que, agora, atapetam o chão. Primavera no outono com frio de inverno e chuvas de verão! Como de verão parece ser o cinza escuro do céu a realçar tudo na luz oblíqua linda de maio. Quatro estações no mesmo dia! Pétalas miúdas, amarelas, salpicadas sobre o úmido tapete de folhas escuras, que se grudam e se decompõem e exalam um cheiro bom. Levante-se a ponta dessa forração e se põe em alvoroço a multidão de vida que se multiplica à sua sombra e umidade e se descobre a fábrica de terra, negra, perfumada, da melhor. Logo se agitam muitas minhocas, miriápodes, pequenas larvas sabe-se lá de quê. Anuncia-se um ano frio. O inverno ainda está longe. São Paulo já teve 12 graus, mas continua no limite da zona tropical e, por isso, até os vegetais se regozijam e florescem e dão frutos e se despem da folhagem e rebrotam, tudo ao mesmo tempo. São poucas as folhas novas e muitas as que caem, é verdade e, nos anos secos, aquelas nem brotam, mas este além de frio, é úmido. Por aqui, há sempre flores e frutos, o ano todo, todos os anos. Nas beiradas do círculo polar, na Rússia vi, num filme, cena que jamais esquecerei: uma velha senhora, num inverno terrível, raspava com uma espécie de rodo o gelo do teto de sua casa, como se fazia no congelador da geladeira. Choveu um pouco, de sábado para domingo, bem pouco, suficiente para lavar folhas e troncos e preparar tudo para uma alvorada de aquarela de mestre, com sol sobre um azul pálido e poucas nuvens mas muitas, muitas cores, em todo o espectro de laranjas e rosas. Sobre um pinheiro, um bem-te-vi cantou soberano, secundado por muitos pios, Logo vieram mais nuvens, de leste e sudeste, toldando o brilho e calando a passarada. Havia uma brisa, levíssima e fria. |
|
|home| |índice das crônicas| |mail|
|anterior| |
