cronista em desenho de Vicente Kubrusly (29-05-78) 

Estarrecedor

27/03/19

Estarreço-me ao lembrar do PBX de meu primeiro emprego, umbilicalmente ligado à dona Ruth por inúmeros cabos grossos, terminados em um grande plugue colorido, por ela usado para conectar com um dos orifícios de um painel, conforme solicitação de ligação, enquanto recebo, pelo smartphone, além de telefonemas, inclusive internacionais, mensagens, avisos, informes e muita amolação, equivalente à de vendedores ambulantes dos tempos idos.

Pouco mais de meio século separa as duas vivências. Recuando no tempo apenas quatro anos, chega-se à cena contada e recontada aqui do pedido de uma ligação intermunicipal - municípios distantes cerca de 150 km - e a estarrecedora previsão de uma espera de cinco horas para completar a ligação. Naquela época "o sistema" era feito de pessoas e, não, de computadores.

PBX pelo menos dez anos "mais jovem" do que o usado por dona Ruth.
PBX pelo menos dez anos "mais jovem" do que o usado por dona Ruth.

Atenho-me, então, ao conselho do ouvinte mencionado na crônica de ontem e procuro apenas o melhor de minha atual "estação": um velho cercado como ilha pela chamada tecnologia de ponta, ponta a cutucar-me as costelas com os novos hábitos dela decorrente. Criamos as tecnologias e elas nos modelam o modo de viver e pensar.

Palavras em letra de forma, separadas por um espaço e em sequências mais longas ou curtas, têm sido, nos últimos séculos, a forma de arquivar e transmitir o conhecimento no ocidente. Antes, na baixa Idade Média, os textos eram manuscritos, em geral em latim, com as palavras emendadas em um continuum.

Hoje, textos tipográficos ainda dominam a comunicação do pensamento mas, graças às novas tecnologias, já convivemos com embriões de novas linguagens, seja pela redução de palavras, para facilitar a digitação nos anti-ergonômicos telefones celulares, seja pela utilização das infindáveis coleções de emojis e emoticons a substituir palavras e sentimentos, fora o abuso do recurso copia/cola.

Wed, 27 Mar 2019 14:24:48 -0700

por um lado assusta
sei e sinto q estou "envelhecendo", pra nao dizer velha ja, qdo nao consigo nem acompanhar o q a geracao mediana, nem me fale na mais jovem, escreve no telefone esperto

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Por outro lado, estamos presenciando o surgimento de uma nova língua, com um novo alfabeto e, por enquanto, significados universais - aqui, no Japão, na Malásia, onde for, os emojis e emoticons são compreendidos da mesma forma. Isto é fantástico!


Wed, 27 Mar 2019 22:00:15 -0300

com sua habilidade de descrever tudo isso, colocando links (eu não sabia que emoticon é diferente de emojis! nem que emoji é formado por 2 palavras japonesas!) nem tinha lido a crônica da dona ruth - sua cara se apavorar previamente por causa do bom dia - tão bem escrito, tão certo, você é o mais jovem dos velhos!!!!

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Nossa! Suas palavras me emocionaram. Obrigado.

Na verdade, hoje, está tudo à distância de um clique. Eu também não sabia até procurar. Depois de descobrir a etimologia de emoji, ocorreu-me ser muito lógico terem orientais, vindos de culturas de caracteres pictográficos, os criadores das carinhas para representar sentimentos, começando com a junção dos sinais de pontuação.

Fico pensando se não estamos sendo testemunhas do surgimento de uma nova língua, compreensível para todos do planeta.


Fri, 29 Mar 2019 10:02:21 -0300

Sim, é estranho como tudo passou tão rápido nesses últimos 30 anos, quantas mudanças em tão pouco tempo.
Outro dia minha filha me falou uma coisa que achei bem engraçado, ela disse: não mãe ele não é tão velho, ele é de 2000 e não 1900 ??
Nós somos de 1900 e ainda vamos ver muitas mudanças.
Beijão

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É verdade.

Ainda bem que temos filhos e netos para nos ajudar a situarmo-nos no tempo.

Sim, é estarrecedora a velocidade das mudanças.

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