Crônica do dia
Publicação esporádica, a perder-se como berro de vaca, que todavia muge, apesar da inutilidade declarada de seu berro.

 

Estímulo

29/05/09

A leitora sente falta, volta e meia, de uma imagem, de alguma fotografia, para explicar as coisas aqui descritas. Diz tentar imaginar, mas tem sede de ver o que a palavra não consegue mostrar.

À parte minha imperícia na descrição, a questão traz à tona temas muito interessantes e, à lembrança, velhos debates em busca de eleger a imagem ou a palavra como mais valiosa. Punha-se preço: uma imagem vale mil palavras!

A jovem, na platéia, me perguntou, então se era verdade, se uma imagem valia mesmo mil palavras - mais de meia crônica destas daqui. Perguntei-lhe se, diante da imagem, não surgia uma quase volúpia por explicação. O quem, o onde e o quando tiniriam como campainhas frente a foto desconhecida.

Eis saída das entranhas do Maneh - rebatizei assim este computador tão mané - uma foto muito conhecida, há muito tempo, foto famosa, famosíssima, esplendorosa capa da Life, em meados do século passado. Agora, a imagem se me impõe absoluta, me encanta mais do que quando a vi pela primeira vez.

reprodução do desktop do Maneh
reprodução do desktop do Maneh

Num livro de sucesso na década de oitenta, Roland Barthes questionou qual seria a natureza íntima da Fotografia. Mais que as respostas porventura ali aventadas, intriga-me a atribuição de uma 'natureza intima' à Fotografia. O quê tanto me encantaria nesta foto de Andreas Feininger?

Não sei nem a quero dissecar, mas deleito-me com a nova cara do Maneh a estampar o rosto insinuado, com olhos de câmera a me encarar com olhar misterioso e lábios pintados de batom.

Em verdade, já dei pelo menos parte da legenda ao contar quem fotografou e onde se publicou. Fora da imagem, se pode ainda esvoaçar por miudezas como a assinatura do autor no canto inferior da direita e o provável título, no canto esquerdo: "Camera eyes".

canto inferior esquerdo canto inferior direito
detalhes dos cantos inferiores

A leitora querida continuará sem hipotéticas verdades de fotografias. Que seja estímulo à fantasia e imaginação.



Por seis anos permaneceu aqui este erro: 'mais de meia crônica destas
daqui', para dar a medida de 1000 palavras. O cronista trocou palavras
por caracteres! Meia crônica tem, em média, 900 caracteres, ou cerca
de 150 palavras, considerando, na média, cada uma com seis letras. Mil
palavras teria, pois, cerca de 6000 caracteres ou três crônicas mais um terço.

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