A história de Nancy Grace levou três leitores a se manifestarem diante da impávida senhora de pedra e venda nos olhos, todavia invendável, incorruptível e imparcial como a balança que sustenta pronta a separar do trigo impurezas e ervas daninhas e aquilatar com precisão o justo, e o não.
Não, dona Sabrina, Nancy Grace não é a senhora de pedra de agora, apenas a promotora aposentada de quem falei outro dia, dela e de sua incurável saudade do noivo assassinado, detalhe que a norteou pelo resto da vida e a conduziu, enfim, aos tribunais a "pedir justiça" - existe locução mais ambígua? - pedir justiça para os que cometem crimes monstruosos etc.
Quedo paralisado, como disse, diante do tema que levou os três amigos queridos a se mostrarem, também eles, perplexos ao parar para contemplar a Justiça além da escultura e símbolo. A justiça dos homens, e mulheres é óbvio, feita por seres humanos e, portanto, tecida com todas as maravilhas e coisas terríveis que fazem um ser humano.
Daí uma das correspondentes afirmar: "Pra mim, ser humano e ser justo são duas condições excludentes." De fato, não é fácil "fazer justiça" do mesmo modo que é dificílimo perdoar. Seja a quem nos causou a maior ofensa ou roubou a vida de quem mais amamos, seja quando o ofensor ou assassino é justamente o ser a quem tanto queremos.
Talvez o espanto maior venha ao vermos, ou intuirmos o abalo da fé nas instituições. Acreditamos em tudo que tem aparência sólida, tudo que é imponente e cultivado de pai para filho como velha loja de secos e molhados. Ficamos perplexos porque a dama de pedra, de repente, se desfaz em sal.
Talvez por isso outro correspondente pensa sobre a estrutura inteira e pergunta "quantos outros juízes, promotores e demais atores da tragédia judicial brasileira (e no resto do mundo) não se mexem movidos por esses impulsos?"
Não é fácil...
|home| |índice das crônicas| |mail| |anterior|
2452776.456