|
|
Experto05/08/02 |
|
"do Aurélio" experto esperto |
Não sabia existir experto em português. Não, dona Sabrina, existir português esperto não surpreende, o que me espantou foi a palavra com raiz latina comum - expertu - e mesmo significado da inglesinha expert, bem mais usada para dizer o mesmo. O cinema, a música e a informática foram vento, aves e pêlos a semear o inglês pelos cantos da esfera. Os grãos vingaram e, aqui, com a língua de Pessoa, esboçam nosso modo de pensar, pois se pensa com palavras, a encadeá-las em frases e essas em turbilhões de perturbadora loquacidade. Não defendo tradições nem o português de meu avô ou o de Caminha nem nada. Língua se fala e comida se come conforme o gosto e a possibilidade. Comem-se ratos e gafanhotos se falta pão e camarão no cardápio. A fala de cada época e povo tem marca própria. O futebol brasileiro dos anos cinqüenta tinha goal-keeper, corner, back, center-half, foul e off-side. Apesar dos esforços das academias com seus guarda-valas, golquíper, balípodos e sei lá que mais, hoje se diz: goleiro, escanteio, zagueiro, meio-de-campo ou cabeça-de-área, falta e impedimento. Por isso, o melhor é a conviver em paz com atachados e times disso e daquilo, pois que equipes não se fazem mais e com deletar, daunlodár, digitar e navegar em mares e redes, ainda que sem precisão e nos sentidos que se preferir, a cliques de mouse cá e rato lá e deixar o barco rolar sem perder de vista que, mais tempo menos tempo, tais ninharias estarão mortas e esquecidas e os filhos de nossos netos a reclamar da proliferação de termos técnicos e estrangeirismos - em que língua? - extravasados das provetas de biotecnologia. Afinal, longe das academias o brasileiro comum demonstra ser experto no lidar com nomes, que o digam os Uélitons, Greices, Uílsons, Mérilins, Uóshintons e tantos outros heróis do dia-a-dia. |
|home| |índice das crônicas| |mail| |
|
|