Fadas esvoaçam e estrelinhas cintilam. Pipilam, gorjeiam, zunem e ciciam vozes no turbilhão que abafa o resfolego de motores. Tinge de rosa o poente a fúria do sol a despontar. Dura um instante a cor incerta, faixa a boiar e desfazer-se. No alto, um bom naco de Lua marca o norte no céu que clareia. O sol arranca um bafo morno da terra saciada, suspensa no penhasco imune a maresias e outras manhas marinhas, alheia a outros cantares e feitos de outros mares, vértice onde maré não reflui, pudibundo penhasco pendular ora num pé, ora noutro, a oscilar se quer ser tão seco à caatinga, se quer o mergulho incondicional. Nuvens zombeteiras trovoam ecos de deusas e deuses a engendrar temporais. Ecoa eco! Ecoa eco! É como "até certo ponto uma coisa linda, impenetrável, misteriosa, incompreensível" - compreendeu? Pia solene o bem-te-vi. Insiste, muda o tom. Depois, as notas de seu piar perguntam. De longe vem a resposta - ou o marco da fronteira do outro que bem-te-vi lá? Estaria nossa imaginação "alimentando um monstro virtual", como sugeriu a amiga da amiga? O dragão da Lua de São Jorge artificial. Bip, bip, bip! - e o Sputnik daria outra volta, ele que passará eternamente com seu inconfundível bip, bip cinqüenta anos depois, sempre! "Quanto à banalização", assinala ainda a amiga, "não há prazer maior, que ver tudo sendo lavado pela correnteza." Sim, é tempo de temporais e as águas correrão repletas dos frutos da terra assim como dos dos homens, que rolarão e serão levados pela enxurrada enquanto robocops caçarão piratas de olho de vidro e cara de mau, mas a abundância e a banalização inundarão e afogarão. Sim, cintilam estrelinhas pois há fadas a esvoaçar e o tilintar dessas asas clareará horizontes, tecerá novas veredas. Se a cobra sai de onde não se espera, a ordem só pode vir do caos. |
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