Criança, ouvi no rádio por um bom tempo, a cada noite, na Rádio Jornal do Brasil, se não me engano, propaganda de uma loja de roupas infantis, então famosa, a Príncipe, da rua do Ouvidor. O anúncio pretendia homenagear todos os aniversariantes do dia com um jingle que dizia, mais ou menos, ser sempre um príncipe quem faz anos e, concluía: "príncipe de verdade, pode reinar à vontade".
Os príncipes não passavam, então, de personagens das histórias que ouvia e poder reinar evocaria, no máximo, as Reinações de Narizinho, mas o jingle me tinha o condão de evocar a magia de contos de fadas, de semear estrelinhas como a fadinha de Peter Pan. Repetido a cada noite, antes do noticiário, parecia autenticar a permissão para cada aniversariante reinar em todos os sentidos e, assim, enchia o mundo de princesas e príncipes.
Como documento inexorável do tempo escorrido, perderam-se os versos iniciais da música ingênua que, há alguns anos apenas ainda era capaz de lembrar. Restaram-me os finais:
quem faz anos é sempre um príncipe,
príncipe de verdade;
quem faz anos é sempre um príncipe,
pode reinar à vontade.
Ora, nesta quinta-feira ensolarada dois amigos (ou seria melhor dizer um amigo e uma amiga?) não comemoram mais um desaniversário, como queria o Chapeleiro Maluco de Lewis Carroll, em Alice no País das Maravilhas, justamente por completarem, hoje, mais uma volta ao redor do sol.
Então, faz de conta ser esta bobagem especial para cada um deles, neste dia igualmente especial e que possa ela fazer, de cada um, um príncipe, uma princesa, príncipes de verdade e que possam, pelo menos hoje, reinar à vontade.
Aos outros leitores, aqueles que não comemoram hoje os seus aniversários: feliz desaniversário! - e que me perdoem por tomar, assim, os aniversários do amigo e da amiga queridos como pretexto cronista.
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