auto-retrato [1988] 

Fé e geometria

24/09/07

Seriam os deuses geômetras? Ao longo dos séculos a Geometria fascinou o Homem por seu lado humano, demasiado humano, diria Nietzsche e, o que a torna assim, tão humana, é a perfeição absolta, só exeqüível como idéia.

Suas definições fundamentais, seus axiomas, são simples, claros e impossíveis de materializar. "O ponto não tem dimensão." Nada mais fácil da entender: tem zero de comprimento, por zero de profundidade e zero de altura. Qualquer um entende, mas tal objeto é impossível. O ponto é apenas uma idéia, só existe num mundo ideal.

"A linha só tem uma dimensão." Não tem profundidade nem altura, é só comprimento, mas só serviria para cozer a roupa do rei, aquele a quem o povo temia apontar a nudez. Tudo gira ao redor desta idealização, deste sonho de perfeição, até a esfera com que craque se destaca, no campo, no fundo do gol, não é a superfície onde todos os pontos estão a mesma distância de um ponto - no mundo real não existe tal ideal.

imagem da internet

Alguns sugerem que nós, humanos, perseguimos com tanto ardor a perfeição por inveja dos deuses. Ora, seriam os deuses geômetras? Não, olhai à roda o mundo material, e seus pecados e imperfeições a negar toda Geometria, bradariam crentes! Não, ao contrário, bradaria um geômetra, a Geometria e o ideal de perfeição engendraram os deuses!

Vai a humanidade, embriagada de perfeccionismo, sedenta de crenças, a empilhar gerações. Qual células de diferentes órgãos, um homem filosofa, abstrai, outro sonha, projeta, outro calcula e outro ainda faz. Põe mãos à massa dá substância para os que ancoram tudo no real, nas condições de pecado e de sublime a tornar humano o fruto do Homem e nos meter no bolso ou bolsa novos deuses como se fossem flores.

Cruz credo! Xô, Satanás, quem sou eu para me imiscuir em coisas de deuses!

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