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Festa da goiaba18/03/05O dia começou com céu azul e sol, logo que a Terra nos virou o suficiente para a estrela da vida. De tudo pingavam gotas grossas, sobra da chuva da madrugada. Diamantes líquidos se multiplicavam em folhas e teias e flores com a primeira luz. Pouco depois, chegaram: nuvens. Bem baixinho, passavam de noroeste para sudeste e, no alto, ao contrário, iam do sudeste para noroeste. Em pouco tempo tudo ficou coberto por uma abóbada branca, luminosa, é verdade, mas que cobria o céu de ponta a ponta, com diziam nas corridas de cavalo e num velho anúncio de cigarros: "de ponta a ponta o melhor". A goiabeira estava repleta de gordas goiabas brancas, quase todas maduras. Porém, nenhuma recomendável para um ser humano pois, por crescerem sem qualquer espécie de proteção, todas ficavam cheias de vermes, bichos de goiaba. A maioria dos pássaros parecia não se incomodar com esse recheio. Um deles, todavia talvez fosse vegetariano radical. Trata-se de uma bela ave, maior que uma pardal e menor que um sabiá - duas espécies que também disputavam as frutas -, porém, muito mais esguio. Azulado no dorso e com o peito cinza claro, era espécie que sempre aparecia para disputar todo tipo de fruta. Depois de se acostumar com a vida de comércio, é difícil imaginar como é dura a outra, a do deus-dará. A toda hora, um pássaro maior - ali, eram os sabiás - expulsa outros das frutas que comem, esses precisam fugir, muitas vezes, para longe da árvore, temporariamente, e o grandalhão fica com a melhor parte. De repente, me pareceu ver uma das aves azuladas cuspir. Abaixou a cabeça e algo, que me pareceu um verme, escorreu da ponta de seu bico. Não garanto. Pode ser, também, que o verme tenha conseguido escapar da morte, por seu próprio esforço. Seja como for, vida de supermercado e shopping center é muito distante da do resto da bicharada... |
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