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Freguês15/03/02O céu azul pálido silencia sobre os tons rosados que, anunciaram o dia ensolarado. De tanta umidade o primeiro calor exala o hálito inconfundível: tudo apodrece. Folhas e bichos mortos se transformam rapidamente em natureza outra vez. A vida acaba para recomeçar. Outras podridões parecem não ter solução. Os exemplos enchem noticiários e paciência. Há indícios de que se optou, de vez, por uma sociedade construída sobre os pilares da esperteza, aquela que virou símbolo no reclame onde um jogador de futebol conta das vantagens em fumar cigarros. Por sinal, agora, divulga-se que a indústria do tabaco pagou fortunas à Hollywood, nos anos 30, 40 e 50, para que víssemos estrelas e astros se deleitarem com as fumaças cancerígenas... Somos todos prostitutas! Pior: prendemos meretrizes aqui, para agradar os olhos das esposas e as soltamos na próxima esquina, pois iremos buscar seus serviços antes do galo cantar. Pior: ao ver o vizinho a cometer os mesmos desatinos, corremos a mexericar com sua mulher. O descaramento é sem limites. A rádio JovemPan convidava, outro dia, para votar na sua como a melhor página da internet, na categoria rádio. Explicava estar entre as dez finalistas e prometia, para quem votasse... concorrer a dois carros, numa descarada compra de votos! O senhor Adelino, que viveu na primeira metade do século passado, vez por outra pedia desconto na hora da compra. Fazia isso como teste, não para pagar menos. Pobre do comerciante que atendesse ao pedido e oferecesse alguma redução no preço. Perderia o freguês, e se arriscaria a ouvir um sermão cheio de indignação. Na opinião de Adelino, era desonesto dar desconto. Vender por preço maior do que o necessário. Por princípio, nunca comprava de quem oferecia desconto. Adelino morreu na década de trinta, quando não existia proteção ao consumidor. A rigor, nem mesmo consumidor, só freguês.
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