(à Ginsberg)

Vi minha geração despedaçada no esforço inútil de tentar acompanhar
o furacão que destruiu toda mentira que sustentou nossos sonhos.

Vi pais e esposos "dedicados" bêbedos, com o olhar de vidro parado, esperando a Morte para conversar.

Vi mães e esposas fieis se estirarem enlouquecidas nos braços do nada a espera de qualquer caralho que as pudesse foder.

Vi esse bêbedos - homens e mulheres - se esbarrarem e se olharem com olhos suplicando o sonho perdido.

E os filhos maltratados dessa geração rolando pelas esquinas embriagados, drogados, pouco antes do amanhecer.

E senti a busca desesperada de qualquer coisa que não fosse o vazio estéril e repetido de frases e trejeitos.

Mil vezes constatei a impossibilidade do macho ser apenas o que é diante da mulher, e vice-versa.

E a máscara de cosméticos e fogos de artifício profanando todos os templos com seus vendilhões.

E o Midas Mídia dourando todas as mentiras e bailando e sorrindo com a Maia Tecnologia.

E o clamor desesperado por qualquer deus, qualquer pedaço de chão que se pudesse pisar, qualquer água cristalina que se pudesse beber

E a explosão de tanta energia fez a Terra pequena, levou o Homem à Lua e além, tornou todos vizinhos e cada um mais sozinho.

Na cápsula impenetrável de mil aparelhos miniaturizados, computadorizados, coloridos e descartáveis, como a própria vida.

E com seus trompetes e clarinetes e saxofones e guitarras e baixos e vozes, clamaram em uníssono o olhar benévolo de um deus ou uma deusa,

Mas os deuses e deusas estavam de férias, longe, esquecidos de nós.



SP,05JUL89







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