Grades
11/01/02
Grades. Grades materiais e mil outras grades mais sutis, que aprisionam mais. As grades provocaram uma das maiores mudanças nos últimos cinqüenta anos. Há grades por toda parte, estamos todos enjaulados.
A primeira que me chamou atenção foi a do Passeio Público, no Rio, praça com árvores centenárias defronte ao prédio da Mesbla, com sua torre de relógio que se podia ver de longe. A firma, que emprestou nome ao ponto evaporou-se e a praça sumiu atrás de monstruosas grades.
Não sei quando aconteceu. Hoje, todas as praças, todos os cantos, têm jaula privativa. Nossas casas sempre tiveram muros e grades. Só num desenho animado canadense uma flor ao brotar bem na linha imaginária, que divide dois terrenos, pode provocar briga de vizinhos. As grades saem dos muros e ganham as janelas, portas, buracos...
Pior são as outras grades, de alta tecnologia e pior ainda a psicológicas. As primeiras pedem senha, cartão magnético, olham você bem nos olhos para conferir as imperfeições de sua íris ou comparam impressões digitais como um sherloque eletrônico em infatigável trabalho de segregação e isolamento. As segundas, sem dúvida, criaram as primeiras...
O grande cadeado de ferro com uma enorme chave rococó deu a ilusão de segurança durante algum tempo. As grades, que hoje o substituem, se metamorfoseiam em células infravermelho, câmaras de vídeo e outras extensões de máquinas de computar e, como os velhos cadeados e grades, lançam de pronto o desafio: quem primeiro me violará? Isso, só depende de tempo...
A única grade virgem, a mais antiga e mãe de todas as grades é a que separa, com eficácia, o rico do pobre.
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