Grande feira
09/02/16
Às vezes Copacabana se me afigura como a imagem que tenho do imenso camelódromo fora das portas da Atenas de Sócrates, segundo as histórias que ouvi. Tais histórias, todos sabem, relatam a primeira visita do pensador além dos muros da cidade, instado por seus discípulos a conhecer os mercadores e suas bugigangas. Sócrates, solicitado a opinar, depois de perambular entre barracas e mercadorias, teria dito: nunca pensei existir tanta coisa de que não preciso. Copacabana não é cercada por muros e não pode, assim, manter seus camelôs fora deles. A maioria vem de longe, quase todos pelo metrô, para se apossarem com sofreguidão dos lugares supostamente de melhor freguesia, conforme o tipo de mercadoria. Depois, permeiam transeuntes com faro aguçado para identificar turistas. Vêm em verdadeira horda e oferecem tudo que é dispensável à sobrevivência de Sócrates. O carnaval exacerba o caráter de grande feira de quinquilharias. Colore o bairro e multiplica a multidão dos negociantes de ocasião com pregões surpreendentes e, às vezes, até rimados. Pelas calçadas muitos estendem panos generosos e, sobre eles, espalham objetos mil - enfeites, artesanatos, paus de selfie, máscaras, falsas tatuagens e muito mais. Alternativa aos panos, outros usam caixas de isopor, cheias de bebidas ou comidas, à tiracolo ou adaptadas sobre uma espécie de carrinho com rodas. Não faltam os carrinhos de pipoca, de milho, de tapioca e, agora liberadas, grelhas com churrasquinhos. Em muitas ocasiões parece haver mais vendedores que possíveis compradores na gigantesca e barulhenta feira livre da "república livra da praia", como, no passado, se costumava dizer, da Copacabana metamorfoseada. Quem dera eu soubesse cantar esse surpreendente comércio como Onildo Almeida e Luiz Gonzaga souberam e cantaram a Feira de Caruaru. |
Wed, 10 Feb 2016 19:11:31 -0200 Falar de Luiz Gonzaga sem assinatura Só o vi de longe e uma única vez, num belo show, num domingo, num parque no Morumbi - fui levar os dois filhos pequenos e foi, sim, uma maravilha! |
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