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Gravidez20/06/03Durante a noite, foi suficiente um pouco de chuva, com raras trovoadas, para tirar o pó de muitos dias de tempo seco e a para natureza se rejubilar e sorrir aos primeiros raios de sol que, ainda tímidos, destacaram muitas gotas. Era espantosa a quantidade de pássaros. Vieram bandos de pequenas aves de peito fofo, cinza claro, dorso escuro cor de terra e cabeça em tons de amarelo e laranja. Pareciam alegres a buscar pequenos insetos. Havia, como sempre, passarinhos com o corpo em forma de gota, o papo em leve tom alaranjado e voz grave, inesperada em bicho tão pequeno. Apareceu um minúsculo beija-flor, que se atrapalhou com o próprio reflexo no vidro da janela, parou por um momento no ar e partiu apressadíssimo. Muitos pios, cantares e até um grilo ensaiou notas fora de hora... Como tênue véu, se via um desfile contínuo de nuvens céleres, de sudeste para noroeste. O vento, às vezes, derrubava folhas amarelas, marrons ou avermelhadas. O fim do outono é amanhã, mas folhas continuarão a cair. Ao fundo, sobre azul muito puro, meia Lua quase exata - o quarto também será amanhã - se mostrava nítida, táctil. Num canto de sombra sob as árvores, um pássaro preto, de bico forte se mantinha imóvel sobre galho fino e baixo. Depois, vieram nuvens de sudoeste, muito mais altas do que as primeiras, mais pesadas e mais lentas também, ora a mostrar, ora a esconder o sol. Tudo mudou de repente. Mudou o vento, a passarada foi cuidar de outras coisas em algum outro lugar, as gotas se evaporaram. Vieram sons de serras. motores, martelos... A mesma brisa de oeste trouxe o perfume embriagador de uma árvore coberta das flores brancas, onde um sem número de abelhas faz sua parte para desvendar o segredo de pequenas frutas negras de polpa adocicada. A vista de todos, a jabuticabeira prepara sua gravidez. |
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