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Heresia17/04/02Há uns 400 anos, o catolicismo mandava e desmandava. Traçava o destino de povos, de homens e mulheres, de reis e rainhas. Proclamava-se dono da verdade e porta-voz de Deus. Sem piedade, julgava, condenava e executava multidões por heresia - ir contra o que a igreja definira em matéria de fé ou, simplesmente, ofendê-la. O poder tolda o discernimento. Nada mais assustador que o ato dogmático, inquisitorial. "Livre pensar, é só pensar" repetiu Millôr Fernandes por toda a vida, mas livre pensar pode ser muito perigoso, pelo menos é o que acham partidos políticos, pelo menos os brasileiros, pelo menos um deles, o dos Trabalhadores! Nas primeiras horas de hoje, quarta-feira, 17 de Abril de 2002, foi expulso de tal partido, por heresia, um de seus fundadores e também vereador por São Paulo. Ele foi fiel aos princípios... não, não importa. Não interessam minúcias ou argumentos. Repito, o expulsaram como herege, porque ousou pensar por conta própria e declarar em público o que lhe parecia certo, o que errado. Como bruxa, foi imolado pelo partido, à moda dos mais truculentos ditadores de todas as épocas! Por inútil, aqui não se costuma falar de política, nem é disso que se fala. É do dogmatismo, do sectarismo, da estreiteza de visão, de antolhos. Fala-se da intolerância, porta para porões, para o terror. Terror não é só o de atos de desespero dos oprimidos e humilhados, dos que não podem distinguir o bem do mal por não terem tido sequer o fruto da malfadada árvore para lhes saciar a fome. Também é terror chicote, algema, grades e os mil e um instrumentos de refinada tecnologia dos mocinhos de ternos lustrosos, gravatas coloridas e sorrisos ambíguos. O vereador foi exterminado do mesmo modo que os militares exterminavam, nos porões, quem deles discordasse, do mesmo modo que o papa e cardeais exterminavam, nas fogueiras, quem cometesse heresia. |
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