cronista em desenho de Vicente Kubrusly (29-05-78) 

Hoje é carnaval!

07/03/11

Vinte e quatro mil quatrocentos e setenta e um dias nesta segunda-feira de carnaval, tão distante de outros carnavais, cujos vestígios tento investigar como paleontólogo de mim. Para a efemérida adulta, ao eclodir de sua vida aquática e com poucos dias pela frente para acasalar e morrer, os quase 25 mil dias são mais que uma eternidade; comparados aos bilhões de anos do terceiro planeta do Sol, são um lapso fugaz, menos que uma piscadela geológica.

Vi desfile de escolas de samba na avenida Rio Branco, da balaustrada da Biblioteca Nacional, com as escolas misturadas ao povo, separados apenas por uma precária corda, fácil de ultrapassar onde, antes que acabasse a apresentação da primeira escola, passou alguém vendendo 'O Dia' do dia seguinte, já com a 'cobertura completa' dos desfiles por acontecer.

Com quinze anos, no baile vespertino do Clube Caiçaras, surgiu-me uma bela rapariga e brincamos juntos até o baile acabar. Deveria ser terça-feira gorda, pois no dia seguinte me vi vítima de violento abalo sísmico, que localizei em meu próprio coração, como sói acontecer amiúde com os meninos nos umbrais da adolescência. Parecia-me imperativo reencontrar a menina, cujo nome não lembro e, talvez, nunca tenha sabido, mas seu rosto jamais esquecerei.

Sem saber como procurar alguém que mal conheci, peguei um lotação que ia pela Lagoa, no rumo do Caiçaras e, pela janela, sonhava com ela olhando a Lagoa. De repente, a vi de pé, num ponto de ônibus, linda como me parecia ser, mas quando desci, muito adiante e voltei, já não estava lá. Nunca saberei se era ela no ponto de ônibus ou apenas um devaneio meu. Eram carnavais com lança-perfume, metálico ou em ampolas de vidro, ferramentas de um brincar inocente, como confete ou serpentina. Eram outros carnavais, vestígios de dinossauros que já não existem mais.

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