O que buscamos? O que procura o bicho-homem, replicado em cada um de nós? Qual o objeto da eterna e insaciável ansiedade que está no "fundo", em regiões que suspeitamos e intuímos mas, em verdade, sequer sabemos se estão em nós, se somos nós? Dinheiro? Fama? Poder? O que buscamos, afinal?
Talvez, vivendo na sociedade que fizemos, se possa resumir nestes aspectos - dinheiro, poder e fama - o desejo mais geral de cada ser. Objetivos intimamente ligados e que, de certa forma, se confundem - cada um embute a promessa dos outros dois. Como apenas uma parcela insignificante das pessoas poderá ser famosa, muito rica e poderosa, o normal é observar em alguns poucos, e não na própria pele, em que resulta obter aquilo que tanto se busca.
Repito: só uns poucos podem gozar de muita fama ou muito dinheiro e muito poder. O sonho de "ver o bolo crescer" para que, dividido irmãmente, possa caber fortuna e a fama em dose generosa, a cada ser humano, é uma falácia. Mesmo quem usa esse argumento, deve saber que os torrões individuais, que se vêem hoje aquinhoando alguns, levariam a números inviáveis, se multiplicados pelos seis bilhões que já somamos.
Um exemplo banal se pode dar com a fama, que o artista plástico profetizou poder distribuir a todos, em bocados de 15 segundos. Somados, todos os "nossos" 15 segundos de fama, teríamos um tempo que ele não calculou: 25 milhões de horas. Muito? Pouco? Já se vê que dá mais de um milhão de dias: exatos 1.041.666 e uns quebrados, o que corresponde a pouco menos que 2.852 anos! Isto é: quase três milênios!
Se tivéssemos começado, com esses 15 segundos de fama para cada um digamos, no suposto nascimento de Cristo, ainda poderíamos ter que esperar mais de 850 anos para ver nossa hora chegar... O que vai chegar logo, em um mês mais ou menos, é o seis seguido de nove zeros no contador do departamento de censo dos Estados Unidos. Se quiser conferir, a página é rápida e se modifica cada vez que é recarregada. Pelas contas deles, a cada segundo chegam, mais ou menos, 2,46 pessoas ao mundo! Confira. Pelas minhas contas, deve se chagar ao número "redondo", que tanto fascina esse bicho que não é só bicho, na tarde do próximo dia 18 de julho, mais ou menos às 16:45...
De todo jeito, pelo que se vê em redor, nem fama, nem dinheiro ou poder são capazes de aplacar a eterna e insaciável ansiedade que está no fundo, bem lá no fundo...
Publicada 17/06/99
185