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Instantâneo de uma manhã11/09/08A mosca verde oscila ao sol em artes de helicóptero, habilidade de poucos: de voar sem se deslocar no ar. Seja pelo zumbido, seja pelo reflexo metálico, vira centro de atenções. Logo, um grilo imita campainha de telefone, num estridular singelo a se repetir em intervalos de uns cinco segundos. O ar morno parece aceno do verão do lado de lá da primavera. Muitas borboletas borboleteiam à guisa de piscadelas da paisagem. Chega um pássaro negro em vôo firme e pára num galho baixo da jabuticabeira. Depois, pula pelos galhos da ramificação abundante da árvore, toda recoberta de minúsculos pontos verdes, de uns três milímetros, pequenas esferas a coroar finíssima haste de sete milímetros (medi para poder contar), em meio à palha escura, sobra de flores aveludadas e perfumadas - são botões de jabuticabas! Adiante, uma lufada de inebriante perfume. De onde vem? O olhar conduz à planta que chamam Véu de Noiva, coberta de pequenos buquês branquíssimos, a se despetalar. Não, não vem de lá o aroma... mais uns passos e eis o velho pé de laranja lima, um estranho neste fim de mundo, mirrado e sufocado por tanto mato. Em um dos galhos, voltado para leste, uma dúzia de flores acabam de se abrir e, apesar de poucas, inundam o ar com sua essência estonteante. Tudo sorri à medida que a temperatura sobe. A imensa paineira, de repente, se livra do excesso de água na seiva e grossas gotas tamborilam as folhas embaixo como chuva. Uma brisa marota se faz de oásis. Um avião rasga rumo noroeste como aviso sonoro de que os homens continuam suas guerras, disputam com afinco o poder, se intrigam uns aos outros... Alguém pia, insistente e próximo e atrai para si toda atenção. O piado parece um pedido, um grito de desespero por socorro. Não posso ver a ave cujo grito vem de lado mais fechado da vegetação. |
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