Publicação esporádica, destinada a se perder como o mugido da vaca, que continua a mugir apesar de se declarar inútil seu berro.

Inutilidades

16/11/06

Há um esquete clássico de piada onde a vítima só percebe o que se passa a seu redor quando já é tarde. Muitas vezes o entorno é uma piada, que só se compreende e provoca risos muito depois de acabar. Outras vezes são situações que se tornam cômicas porque o 'português' só se dá conta da encrenca em que está metido quando já não adianta mais - quando não pode ou é inútil reagir.

Na vida real, a compreensão inútil pode vir um instante depois ou com vários anos de atraso. Em ambos os casos é inútil por que o tempo não tem marcha à ré.

Um belo dia você acorda e descobre que o feiticeiro do sono lhe contou a velha história, enquanto você dormia, e que, agora, você a vê e compreende com toda clareza. Mais, compreendeu que, na época, ficara inerte, extasiado, transtornado ou, seja lá pelo que possa ter sido, se isolou em uma bolha hermética, mas indispensável talvez.

Era aí que queria chegar: quando rirmos do 'português' da piada, que reage feito um idiota na vida real, podemos muito bem estar diante de um autista - claro, frente a um desses casos de autismo mais brandos, que podem passar despercebidos por toda uma vida.

Por que tudo isto? Por cisma, por pura cisma. Há pouco mais de um ano cismei que era autista. Já desconfiava disto há muito mais tempo, é verdade, mas foi só aí pelo final de 2005 que ouvi falar da existência de vários graus de autismo e que é comum os mais leves passarem despercebidos. Mais, ouvi que é comum esses autistas se destacarem em algum campo ou atividade.

A medicina e psicologia mudaram, os autistas, não. Se você continua a se perguntar: por que tudo isto? É simples: minhas atitudes em muita coisa de que me lembro, hoje, me incomodam e deve haver muito mais de que não me lembro. Fica uma explicação tardia e, como tudo mais, inútil.

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