Vai-se o dia na ponta dos pés. Nuvens de chumbo no poente acendem e apagam do sol. A safra temporã da jabuticabeira aparentemente também se vai, em silêncio, sem que bicharada a ataque com a mesma volúpia de outras vezes. Cada qual a seu tempo, os frutos caem para forrar o chão sob a árvore. Depois, virá a fermentação e o cheiro avinagrado. O canto dos sabiás vem de duas direções - dialogam? Apaga-se o spotlight; segundo ato, adágio. Adágio mas não tanto, pois num céu azul vagam nuvens bem nutridas. Primo Nicolau entra sem se anunciar e esbraveja: reportam que o peido da humanidade ameaça o planeta... ora, ora, ora! Para que tanta arrogância! Confundir uma ameaça a espécie, a do 'homo spiens', com risco à bola de coração de ferro, o Planeta! Uma faixa muito luminosa se estende sobre o horizonte e o separa de nuvens escuríssimas. Com uma rajada forte de vento sul, chega uma corruíra - o passarinho a que também chamam cambaxirra ou garriça. Agitada, pousa num ramo contra a faixa de luz. A segunda-feira parece chegar com o mesmo vento, ou a semana, talvez. Nuvens apressadas se empurram umas às outras. Vêm do oceano - mar tão distante e tão perto. A distância depende de referências, físicas e psicológicas. Tal como o tempo que, pelos mesmos motivos, corre mais rápido ou mais lentamente... Volta o sol, tímido, alegra por um momento e logo se vai e volta de novo. Em seu brilho a flor ganha vida e os insetos parecem riscar o ar ao voar. Muita neve castiga o nordeste dos Estados Unidos e, na imaginação, a informação se torna um pesadelo. Vai começar o verão aqui. Lá, começará o inverno, mas como a Terra gira ao redor da Estrela, virá o tempo do inverno aqui e será verão lá. A vida e a morte também têm seu ciclo de ir e vir, mas nele cada ser que morre renascerá em outro ou a outro alimentará. |