Faltavam três minutos para as nove horas da manhã. Fora de casa, a temperatura era de 14 graus Celsius. Hoje, num dia treze de dezembro. Que fique o registro. No Trópico de Capricórnio, o das cabras e bodes, a apenas quatro minutos ao sul daquela linha imaginária e pouco menos de 47 graus de longitude oeste, o simpático termômetro de um dólar - mais ou menos, já que veio de uma dessas lojas de R$ 1,99 tão comuns em toda parte - marcava 14°C, às nove da manhã e a nove dias do solstício de verão. A água da talha de barro agrediu os dentes, já que há muitos anos não bebo água gelada. Num dia, hoje, de quase 14 horas (13 horas, 57 minutos e 25 segundos) e com o pôr-do-sol quase às oito da noite (19 horas, 48 minutos e 44 segundos), tínhamos, duas horas e 45 minutos depois de o sol nascer, 14 graus Celsius. Cumprida a tarefa de tabelionato, ao arroz com feijão. A leitora primeiríssima me sussurrou: mente, inventa, cria personagens... De um ermitão obstinado ninguém saberá se é fato ou ficção. Jamais poderão conferir a amplidão de teu horizonte ou a profundidade de tua caverna. Esculpe o que te der na telha com o verbo a guisa de mármore e lança aos ares para um primeiro vôo. Sussurrou e se foi, como qualquer fada, mas o rastro luminoso de suas palavras ainda luz como néon em mim. Mas é vã a busca pelas personagens. Nem fantasmas habitam meu deserto, que se expande imaginação afora. Em vão busco qualquer semente para cronicar. Um farrapo de passado, uma frase sugestiva, alguma cena tragicômica - tudo passa como peixes coloridos rente ao vidro do aquário. O mosquito voa rente à mesa e me distrai. Vapt! Um tapa violento o destrói. Mato mais um ser com uma indiferença divina que não me cabe. À lupa, mal se distingue o que resta, tal a brutalidade do golpe. Tudo acaba, até o assunto e chegará nossa vez. Vapt! - e, ó... vupt! |
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