No fim, cada mania acha seu louco.
Não passa de uma fotografia colhida no entrelaçamento mundial de computadores. Na certa, serviu a algum jornal para ilustrar um drama individual ou, eventualmente, o de um povo, em dado tempo. Ao vê-la me deu ganas de proclamar que a essência da Fotografia, está no rosto humano. Que a face do ser humano, por vocação ou predestinação, resulta objeto, sujeito, tema e razão de ser da imagem fotográfica. Talvez o tom presunçoso e a arrogância desta afirmação seja memória de quem levou ao pé da letra o "quem sabe faz, quem não sabe ensina". Ao contemplar a imagem, alguém poderia aventar que nela foco e a profundidade de campo - como e quanto estão desfocadas as coisas à frente atrás do plano de foco - são elementos tão ou mais importantes que os quatro rostos. Sem dúvida, a seleção e controle de foco é protagonista nesta imagem e assaz responsável por sua força mas, ao desfocar três rostos e manter o brilho e as minúcias de apenas um, o fotógrafo sublinhou, ao mesmo tempo, o apurado refinamento de nossa capacidade de decifrar mensagens em um rosto. Nesta fotografia, é este aspecto sublinhado e arraigado no mais fundo de nós que me deixa perplexo. Na imagem, estática, onde não se pode mudar a quantidade de informação que o desfoque determina, é possílvel ter certeza quase absoluta do que vai na alma de cada pessoa. Tanto a metade de rosto que se vê com provocativa nitidez, cortado por uma foto quase como se fosse um véu, quanto os outros três - o do menino retratado na tal foto e os das duas mulheres, ao fundo, nenhum deixa dúvidas sobre os estados de espírito, o ânimo que abate ou ilumina cada qual. Não se aprende na escola a decifrar rostos. A arte de decifrar o âmago do ser por seu semblante pode vir de quando ainda morávamos nas copas das árvores e a tensão de uma imagem do desafio de um rosto. |
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