A cabeça de Maria Antonieta rolou e nunca mais parou. Rolou morro abaixo e em várzea rasa milhares de outras lhe serviram de adubo acompanhadas de corpos empilhados em macabra bacanal. Como das proverbiais margens do Nilo, de tão rico estrume brotou árvore frondosa, fadada a sina milenar, milenar, pois a si se antecede a frutificar em antoinettezinhas e por muito tempo ainda as haverá de semear. Olhe à roda, gentil leitora, arguto leitor, que se vê? Panem et circenses. Ao som sarcástico do eterno rir a repetir "S'ils n'ont pas de pain, qu'ils mangent de la brioche!" - "Se não têm pão, que comam brioche!" Ecoa ainda a zombaria das antoinettezinhas. Parece que nunca acabará.
Tilinta no filme barato, repetido e roto da televisão sem graça, de graça, paga caro no reclame insistente de que não cabe reclamar e se arreganha nas esquinas, pelas bancas de jornais sob jugo e poder de grandes rufiões e, poder é grana. À ela, grana, tudo se curva, tudo se abre enquanto cantam querubins ecos e árias do antigo deboche: ao povo, circo. Circo, circo máximo! Vinde, correi, há pão também! Pão fresco,fresquinho pronto a vos derreter em manteiga. Vinde vos lambuzar, manteigas derretidas. E o grito das arquibancadas faz tremer as pernas das colunas e estátuas e se não há bola, ora bolas, que rolem brioches! Como petites antoinettes, antoinettezinhas, que rolem no círculo máximo, no circo Central do Brasil, morro abaixo, no despenhadeiro sem fundo, para o fundo pântano irrespirável - voilà, a capital! Ah, Capital eternamente de braços com seu consorte e cafetão, tão respeitado... o Capital - estranho casal! Em teu pântano fétido some toda antoinettezinha, por mais que role, por mais que despenque, por mais que se afunde e chafurde o fim de toda podridão se esgota e consome ali. Lá, de onde não emana nada são. Parece não haver provas de que Maria Antonieta falou mesmo a célebre frase,
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