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Jorge Amado07/08/01 |
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"aspas" Caiu, caiu Babilônia, a grande; e tornou-se habitação de demônios, e guarida de todo o espírito imundo, e albergue de toda a ave hedionda e abominável; porque todas as nações beberam do vinho da sua furiosa prostituição; e os reis da terra fornicaram com ela; e os mercadores da terra tornaram-se ricos com o excesso das suas delícias."" São João, Apocalipse, da Vulgata, trad. Pe. Matos Soares, Ed. Paulinas, SP, 1975. |
Zélia chora a morte de Jorge. Salvador chora, como a Bahia e todo o Brasil. O mundo inteiro lamenta a perda do grande escritor. A morte de um grande homem reverbera em todas as pessoas. Por certo haverá muitos analfabetos nas filas para desfilar diante do corpo do escritor antes que seja cremado. No caso de Jorge Amado isso é natural - ele sempre se disse e sempre foi do povo. Suas obras foram levadas ao povo pelo cinema, pelo rádio e, sobretudo, pela televisão. Não era preciso saber ler para conhecer de cor seus romances. Jorge Amado morreu ontem e na sexta-feira, a poucos dias de completar seu 89° ano de vida. A morte de um grande homem sempre deixa a morte mais presente, pois vivemos como se ela não existisse. Acho que no fundo de cada pessoa dorme um sonho inconfessável de eternidade. Fora de matas e campinas, onde a morte se mostra a todo instante, esquecemos que esse passo esta implícito no viver. Assim a morte de um grande homem soa como um alarme para nos avivar este fato. Alarme para a essência do humano, daquilo que nos distingue do cachorro: ele não sabe que vai morrer. Em outras palavras, como na história publicada há 44 anos, pelo "Mentiroso", copiada de algum folhetim ainda mais antigo, com o título "Vida de Cachorro", onde um inglês filosofa com seu cão: "... Você quando morre morreu. EU quando morre ainda tenho que ir para o inferno." Jorge Amado morreu no mesmo dia em que os japoneses assinalavam 56 anos do primeiro ataque atômico, que matou mais de 220 mil pessoas em Hiroshima, no 6 de agosto de 45. Depois, a radiação continuou a matar, pelo menos mais 80 mil. É muito difícil compreender nossa relação com a morte. Agora, milhões vão esquecer. Zélia, não. |
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