autoria: José Lauro 

Lágrimas submersas

01/11/16

continuação

Lágrimas a escorrer debaixo d'água contradiziam a lógica, a razão e faziam esmaecer a doce voz de minha mãe. Larguei-me então à correnteza de disparates como procurava abandonar-me às deliberações das águas e surtiu efeito: logo voltei a ouvir a fala materna e mais: lhe pude compreender perfeitamente as palavras. Ela me falou:

"Por nove meses estiveste mergulhado como agora em outro mar, em meu ventre. Um frágil cordão nos uniu, então, e por ele trocávamos o necessário para te tornares o que és a partir de umas poucas células iniciais. Daquela união restou teu umbigo, marca que levarás até a morte. A vida ultrapassa a razão e pode, sem erro, ser chamada de milagre. Portanto, viva e conviva com este milagre por toda parte ao redor de ti até a morte, última etapa do viver."

Tais palavras calaram fundo em mim e, ao mesmo tempo, me apaziguaram. Sem lucubrações racionais, arrazoados ou explicações, compreendia sem precisar porquês ou argumentações e logo uma forte afeição por toda sorte de vida me invadiu - da barata ao beija-flor, da ameba ao condor.

Não me espantava estar submerso e tampouco o lento desfile de peixinhos ante meus olhos em clima de aquário. Então, da turbidez das águas salgadas emergiu um vulto a se aproximar. Só muito perto reconheci Serena e compreendi serem ela, a sereia, e minha mãe uma mesma coisa em mim.

A razão era útil, sim, porém insuficiente para uma total compreensão da vida, sempre inédita a cada novo desafio. A serena sereia nada disse, apenas me olhou e sorriu aquele sorriso desconcertante muito além do racional. Eu lhe retribuí com outro sorriso igualmente mudo e reinou uma comunhão verdadeira sem necessidade de palavra alguma.

Um forte clarão me cegou por um momento. Apertei os olhos mas pude percer naquele átimo onde estava. Respirei fundo antes os abrir outra vez.

Quiçá continuará...

Tue, 1 Nov 2016 13:16:28 -0200

A mim se afigura tempo de suspender esta tentativa.
Mais uma frustrada, como todas as anteriores.
Espero que não se aborreça, à jabuticabeira cabe produzir jabuticabas e não, mangas.
     O pequeno cod34, negro e rechonchudo.

Sem opiniões contrárias, será suspensa...
Obrigado pelo toque.


Tue, 1 Nov 2016 22:53:28 -0200

desconcertante, poeta.

      sem assinatura

Merci.


Wed, 2 Nov 2016 07:45:58 -0400 (EDT)

Querido Clode,
Como vai você?
Sua Serena sereia é linda. Uma verdadeira iluminação. Tomara que você continue, mas se por acaso não o fizer, agradeço desde já por tanto que essa sereia me trouxe.
Desconfio que você é mesmo um iluminado.
Beijos
Lucia

Lucia,

Estou bem, obrigado. E vocês?

Curioso e oportuno seu comentário: ontem ainda decidira parar com esta série face a total ausência de manifestações dos leitores, o que me levou a imaginar os estar aborrecendo. Publiquei um aviso (acima)... Aí chegou uma mensagem sintética: "desconcertante, poeta." E hoje me chega este elogio justamente de quem tanto admiro. Tentarei seguir na saga apenas esboçada.
Obrigado.
Agora, iluminação zero. Apenas me esforço para compreender o que fizemos deste mundo... e não é fácil.


Fri, 4 Nov 2016 21:23:03 -0200

sim... continuará, certamente...

      sem assinatura

publiquei tarde, hoje, a continuação.


Wed, 9 Nov 2016 20:11:03 -0200

... e é claro que você vai reencontrar este encontro algo misterioso algumas vezes...... ainda bem....

      sem assinatura

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