A dura realidade
04/11/16
Reclinado no divã, recebia de chofre a luminosidade forte pela janela da austera sala do consultório. Abrir os olhos depois de os manter tanto tempo voltados para outros mundos era um pouco contundente. O psiquiatra permanecia sempre fora de meu campo visual, conforme antigos cânones freudianos e a luz intensa refletida pelas fachadas dos prédios da vizinhança varreram de roldão todas as personagens, inclusive aquelas de quem já me afeiçoara na mirabolante viagem submarina. Sem mais nem menos, Serena, a sereia e alter ego de minha mãe, se transformara em um simples símbolo criado nas profundezas de minha confusão, eventualmente, portador de alguma mensagem proveniente do inconsciente mas, se o fosse, indecifrável para mim. – Até quinta - despedi-me do médico de almas e ele, circunspecto, me acompanhou até a porta. Na sala de espera outras psiques aguardavam seus cuidados. Cruzar aquele umbral tinha o condão de desligar o poderoso motor da fábrica de sonhos, quimeras e fantasias e me pôr de novo frente, para citar o magistral cronista, à vida como ela é. E ela é, todos sabem, sujeita às leis da Física nas exatas medidas da Matemática e subordinada às imposições implacáveis da Química, mediadora de cada impulso em cada sinapse e dos efeitos devastadores das doses infinitesimais de hormônios. Ao se abrir a porta do elevador no térreo, pequena multidão aguardava o veículo de locomoção vertical e eu, à frente de muitos ansiosos para sair da exígua caixa, favorita em explicações da Relatividade, me vi obstruído por e a obstruir uma formosa e perfumada jovem em nossos caminhos opostos. A hesitação durou uma fração de segundo e enfim alcancei a amplidão da praça pública. Busquei em vão algum vestígio de Serena enquanto numa panorâmica procurava entender o absurdo do ir e vir frenético das pessoas. Quiçá continuará... |
Thu, 10 Nov 2016 19:14:31 -0200 claro que Mermão vai continuar nesse embalo, claro. sem assinatura Taí, não sei como se constroem os diminutivos de pronomes, mas falamos Português, criemo-la, pois. |
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