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Lulalá18/07/05Lulalá foi lá aprender a Marseillaise, in loco e entre cantos de guerra e desfiles de baionetas e botas lambuzou-se em afagos e mimos despudorados e viu chegar seu dia de glória e se encantou por sucata de avião - de que somos capazes se o vinho é bom! - por certo para decorar o porta-aviões que orna a orla da Guanabara. Lá, Lulalá fugiu de repórter como cá... exceto de uma, a quem se explicou marido traído, que de nada sabia, nem dos detalhes do flagrante do armário. Ignorou Nelson Rodrigues, que muito ensinou (do berço ao túmulo) ser sempre o marido o primeiro a saber e como prova cabal deu o óbvio a ulular. Não o ulular vulgar de virgens impolutas, de rubor exagerado por ruge vagabundo, a exclamar "não pode ser", "iremos investigar", "culpados, se culpados houver, pagarão até o último tostão", "se preciso, o talho comerá fundo nossa carne" e outras pérolas arrancadas de improviso de seus adornos. Não, lá o óbvio que mais alto se alevantava não era ele, o Lulalá. Era o bisar e repisar da mesma velha virgem do eterno prostíbulo! O novo freguês a escolhera como todos, vênus platinada que, apesar de muito usada e abusada, esconde saberes que nenhuma principiante sequer começa a desconfiar. As aspas temidas, a ofensa mais doída torna-se secundária no olimpo de mercadores de votos a fingir assombro e horror e ensaiar gritinhos de virgem em noite de lua-de-mel. As trinta moedas de cada mês, regra que não se rege por Lua nem hormônio, mas pelo voto acertado, encabrestado, que elege e rege tudo isso, se esmaece quando emerge no horizonte globo conhecido e bem sabido, grávido de retângulo, grávido de outro mundo em infinita partenogênese. Diante disso Dionísio mandou que servissem mais vinho. Vieram mulheres com ânforas perfumadas e o vinho era melhor, muito melhor que ou outro, o que tirou do prumo Lulalá. |
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