A formiga grande, de abdômen negro aveludado e com uma listra amarela caminha por um talo dourado e morto de capim. Entre um passo e outro, agita muito as antenas, pára e depois continua. Passa para uma folha viva e verde do mesmo capim e desaparece pelas grutas escuras dos espaços entre as folhas ao sol. Reaparece adiante, mas está na sombra e, agora, seu abdômen perdeu brilho e cores. Sem a luz do sol se torna pardo, uniforme e sem qualquer vestígio da faixa amarela. Um bando grande de pequenos pássaros está nas pontas dos ramos finos do pé mais jovem de chico-magro, perto do pé de jabuticabas, onde os frutos já acabaram. As aves procuram os restos de chico-magro mesmo. Precisam chegar até as pontas mais finas e os ramos se curvam, mas suportam bem o seus pesos. De vez em quando, um deles agride outro para ficar com a posição antes ocupada pelo companheiro. De repente, partem todos juntos. Há muitas árvores com frutos, embora estejamos no inverno. Logo ali, na esquina, um abacateiro idoso mas baixo, está pesado de frutos e, volta e meia, um deles esparrama sua polpa amarela esmagado pelos carros que passam apressados. Olhar os lírios do campo? Lírios? Poderiam estar tão longe de nós que seria impossível compreender qualquer coisa além de sua beleza deslumbrante e seu perfume. Olhar a bicharada e pretender imitar o pombo, o beija-flor ou outra ave e tomá-las como exemplo de vida para o Homem? Só quem nunca se deteve, de fato, a ver como vivem e o quanto lutam e com que ferocidade defendem a si e a seus territórios, como disputam, em lutas muitas vezes fatais, o direito de deixar filhos, com esta e aquela e quantas outras fêmeas for possível ou, para quem preferir, gozar das delícias que só elas poderiam propiciar, só quem nunca se deteve a observar a vida ousaria recomendar a imitação. Apesar de tudo, há um abismo a nos distinguir do resto da macacada. |
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