'Meu primeiro desenho' by  Anucha [1991] 

Macarronada

24/06/09

Para nós, meninas e meninos ao redor dos seis anos de idade, não parecia desagradável nem repugnante. Ao contrário, vibrávamos com nossa macarronada. Corríamos com entusiasmo para exibir um pequeno prato plástico de algum brinquedo com uma 'macarronada' viva, agitada, feita com muitas minhocas. Para melhorar o aspecto, ralávamos giz e rolávamos as minhocas no pó branco. Macarronada de minhocas empanadas no pó de giz! A única onde o macarrão tentava escapar da travessa.

Era uma de nossas brincadeiras nos quintais de dona Sofia, lembrança indelével embora abominável para alguns. No 'segundo quintal', à sombra do pé de jambo - fruta com a pele cor de vinho e a carne, alvíssima -, tinha canto perto de um ralo onde a terra era sempre úmida e muito preta. Ali, abundavam minhocas, diversão para crianças sem televisão, sem videogame, sem computador nem telefone celular.

Macarrão ao pó de giz, a se enovelar na tentativa de escapar, garantia diversão face ao nojo e repulsa, verdadeiros ou fingidos, dos adultos. Tudo servia à imaginação. Improvisava-se na ausência da indústria do entretenimento. Cada criança inventava sua diversão. Fossem minhocas, exúvias das cigarras, o excesso de jambo caído no chão ou mesmo as minúsculas 'pêras' dos fícus que estalam quando pisadas, tão comuns no Rio. Era fácil fazer recreio.

Mais ao fundo do quintal, às vezes, dona Sofia, moia caroços torrados de cacau em uma máquina parecida com os antigos moedores de carne. Era uma máquina pesada e, com freqüência, um de seus filhos, bem mais velhos que nós, se incumbia da máquina para transformar o cacau em chocolate em pó, prestes a virar licor de cacau ou bala, uma calda escura e espessa esparramada em tabuleiro, cortada em losango e embrulhada e papel celofane azul. Ah, memoráveis balas de cacau de dona Sofia!

Quer uma macarronada?

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