Publicação esporádica para se perder como inútil mugido de vaca.

Marinha

11/04/15

Os ventos insistentes dos últimos dias, ora do sul e, por breves períodos, do leste, limparam os longes e o horizonte de água e céu virou linha límpida, precisa, encantadora. Nela, se sucedem embarcações fundeadas, mais próximas umas, mais distantes outras, em provável espera de autorização para entrar na baía rumo ao porto.

Da boca da baía da Guanabara surge imenso cargueiro de casco negro com três letras brancas, também gigantescas. Seguia célere para o sul: sua popa atingia o ponto onde estivera a proa em menos de um minuto e em poucos deles sua imensidão se reduziu à metade. Os ventos persistiam tremulando as bandeiras para a terra.

Copacabana é uma praia voltada para o continente antártico. À medida que o polo sul aponta mais para fora da órbita, determinando o inexorável inverno, as sombras dos prédios se esparramam areia afora rumo ao mar. Isto nas proximidades do Leme. No Forte, vira-se a praia mais para leste, consequência de sua curva famosa.

Caminhar pelas largas calçadas da ampla avenida na beira do oceano põe, inevitavelmente, o andarilho em contato com estrangeiros e camelôs, corpos quase nus e todo tipo de cachorro, aleijados a esmolar e gente de mais tipos do que supõe a imaginação.

Na praça antiga, agora com gradil de ferro, ecoa em meio ao burburinho a Ode a Alegria no som de um carrilhão. Por um momento procuro os sinos na igreja embutida em alto edifício. Percebo tratar-se de apenas uma reprodução: nenhum sino ou torre. Na outra esquina da mesma praça, onde se concentram camelôs, uma mulher provida de um teclado eletrônico e um microfone entoa com voz sofrível hinos religiosos. Seu amplificador supera o da igreja do outro lado da praça.

Em outra esquina, ainda na mesma praça, um homem sem braços sentado em meio a calçada conta dinheiro com os dedos dos pés.

Sat, 11 Apr 2015 10:33:48 -0300

Ô Clode, que belezura. De texto e assunto. Já estava com saudades! bj

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Fiquei um mês 'fora do ar' por estar em São Paulo sem computador.


Sat, 11 Apr 2015 11:44:02 -0300

Clode, Ode à alegria ao fundo com o navio negro, isto da um filme.
Quero te perguntar, tua biblioteca de fotografia esta no Rio ?
Estou fazendo uma pesquisa sobre livros de fotografia no e do Brasil historia do livro e dos processos graficos de reproduçao, vc teria alguma contribuiçao em forma de livro ou outro assunto ?
bjs

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Sim, mas não comigo: quando o Vi se casou levou a maioria dos livros da biblioteca da enfoco. Alguns se perderam entre um casamento e outro. Vejo, na casa dele, hoje, um do Irving Penn à mão para quem quiser folhear. Posso perguntar a ele se tem algum para você. Restam em São Paulo alguns sobre técnica, que o Wilson (MUITO OBRIGADO!) vai separar semana que vem. Aí poderei te falar com mais certeza.


Sat, 11 Apr 2015 12:52:31 -0300

ah, cronista, seja bem-vindo de volta! estava fazedno muita falta.
E, pra matar outras saudades, envio umas sugestões de correções marcadas em negrito no próprio texto.
Adorei,. "Vi" Copacabana, que sempre pensei que fosse virada pra África e nunca imaginei que uma mesma praia, curva ou não, pudesse ser virada pra Sil e Leste. Você entende muito de geografia! e abstrações. pra mim, pontos cardeais são misteriosas abstrações. Outra coisa: como vc sabe o que é proa e popa? Que praça é essa? do Lido? Que igreja é essa embaixo de um prédio??? Não me lembro de nada disso. Nuncs vi ou nunca reparei

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E eu cá com saudade de suas correções, leitora atenta! Obrigado.
A dúvida quanto à proa e popa me ocorreu na juventude e resolvi lembrando-me do motor de popa. Nunca vi um barco com motor na frente!
A praça é a Serzedelo Correia - falamos dela em nosso spam, lembra? O Lido também está atrás das grades, as praças de minha juventude eram territórios livres. Desconheço o santo da igreja, sempre com muitas velas, vou averiguar, como dizem os policiais.


Mon, 13 Apr 2015 09:18:04 -0700

Obrigado pelo Hino à Alegria.

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Os japoneses são, sem dúvida, imprevisíveis!

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