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Matilda30/06/03Nem a própria Matilda sabia ao certo quando tomara a decisão mas, quanto mais se aproximava a hora do encontro, mais ficava segura de sua opção e percebia que só restavam cinzas frias, ou nem mesmo cinzas havia. Tinha sido paixão dessas de tudo subverter sem pedir licença nem avisar e agora, Matilda antevia o final que acabava de decidir enquanto lembrava como tudo começou: almoço para a equipe, para comemorar bons resultados e, entre tantos, Matilda e Laerte ouviram sinos e rolaram entre nuvens fofas que só eles viam e podiam ouvir. Numa manhã daqueles dias luminosos, Matilda irrompeu no trabalho de Laerte adentro, transtornada: preciso conversar agora - declarou imperativa. Saíram. Contou fatos consumados, chorou, se recompôs, sorriu. Dias depois, verteu lágrimas pelo telefone, entre soluços de fichas engolidas: a casa vazia; a dificuldade de explicar aos filhos; o dia-a-dia sem companheiro mas, no horizonte, um sol acenava com vasto sorriso de felicidade. Os messes correram. Em dia abominável, Laerte pôs um ponto final em tudo, irrevogável e Matilda demorou muito para se refazer. Agora, tanto tempo depois, o Acaso propunha um reencontro. Marcaram na portaria do prédio onde ela trabalhava. À hora do encontro, Matilda vê claríssimo que o passado se dissipou e não existe mais qualquer vestígio da paixão. No banco da portaria, Laerte espera, espera, espera... Matilda nem sequer desce. Nega a curiosidade que se atribui à Mulher. Parece compreender tudo, em paz. Laerte esperou muito tempo, pois lhe parecia impossível Matilda marcar, não aparecer e nem ao menos mandar recado. Mas havia um recado ali, inequívoco e contundente, desses que ninguém quer escutar, muito menos sem poder replicar. Quando, por fim, foi embora, Laerte levava uma certeza nova. Sabia estar perdidamente apaixonado por Matilda... |
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