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Milênios e milhões15/11/00 |
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"aspas" "Ser-me-ia ainda permitido dizer, em conclusão, que tenho muito a lhe agradecer? Oh mulher que insuflou o sopro de vida no cérebro do meu destino, assim é. Ah, assim é." John Fante, como seu alter-ego Arturo Bandini, num bilhete de adeus a sua mãe, no romance "Rumo a Los Angeles" (The Road to Los Angeles), trad. Isa Mara Lando, Brasiliense, S. Paulo, SP - 1989. |
É feriado, meio de novembro e faz frio. Pode-se passar a vida toda defendendo a necessidade de distribuir melhor a riqueza. Seria tão eficaz quanto descrever em minúcias os suntuosos pratos de um banquete para aliviar a fome. Outro dia o jornal da tevê mostrou um homem embargado pelo choro, incapaz de falar à reportagem pois, a cada tentativa, sua emoção aumentava e as lágrimas lhe afloravam à revelia, apesar de seu esforço visível para se controlar. A causa de tudo era um prato de comida, servido num restaurante especial, por um preço especial: na Central do Brasil, a velha estação de trens, por um real - 50 centavos de dólar! O restaurante pode servir 3 mil refeições por dia, segundo o noticiário. Aquele mafioso que esteve preso, foi solto para, logo depois, o governo lamentar ter sumido e começar a farsa da recaptura, aquele cara passou a mão em um bilhão de dólares, ou mais, num golpe com a turma do Banco Central. Por isso, não se deve confundir Central do Brasil com Banco Central, pois o roubo de um pode pagar a conta de toda a turma que come no restaurante do outro... durante 1.800 anos, mais ou menos. Isto é: até o ano 3.826. Não falo da conta do homem que chorou na televisão, não! Pagaria a conta dos três mil mesmo, durante 18 séculos, uma refeição para cada um, todos os dias, inclusive domingos, feriados e todos os 29 dos fevereiros bissextos, durante quase o mesmo tempo que nos separa de Cristo! Os exemplos pululam. São bilhões de dólares aqui, milhões ali. Quantias difíceis de imaginar para a gente comum. Por isso essas continhas: se começasse hoje, um bilhão de dólares daria para alimentar três mil pessoas, a 50 centavos de dólar cada prato, até o dia 23 de fevereiro de 3826. Ou três milhões de pessoas até 13 de setembro de 2002. Isso evoca outra imagem difícil: seis bilhões de pessoas... Texto enviado para amigos no dia da notícia: 13 de novembro de 2000. Cálculos para o dia 15. |
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