Monólogo dialogado
04/12/17
— Aparentas abatimento, caro Irineu Gomes, como se vítima de uma grande perda, seja ela material ou a de algum ente querido. Estou certo, que houve? — Nada extraordinário, amigo, são tão só os percalços e as vicissitudes inevitáveis do viver. O tempo todo repetimos "a felicidade mora ao lado", como diz a canção ou "o importante é ser feliz", nas palavras do locutor ou "dinheiro não traz felicidade", para reprisar ainda uma vez o velho refrão e a insistência nesta tecla alimenta o sonho de bem-aventurança, a fantasia de reencontro do Paraíso perdido, de onde Adão e Eva teriam sido banidos justamente para o "vale de lágrimas" de nossos cotidianos. — Mas não acreditas, Irineu, termos sido talhados para a felicidade? Uma busca por happiness com o Google demonstra em muitas páginas a dimensão do sonho coletivo, a crença profunda em um destino que nos cumpriria perseguir. Ali transparece o devaneio coletivo da felicidade, cantado por Vicente de Carvalho como "árvore milagrosa que sonhamos toda arreada de dourados pomos", apregoada por todo cânone como objetivo último da vida de cada ser humano, objetivo a se buscar por meio de infindáveis fórmulas, crenças e receitas. — Vê bem, amigo, que uma vez plasmado o sonho de felicidade, ele como que adquire vida própria e se torna fonte de mil fantasias, determina comportamentos, incita ações e sedimenta no fundo das consciências uma busca pela felicidade semelhante à busca de sobreviver à morte, oferecida pelas religiões. A felicidade habita um Olimpo no inconsciente da humanidade, ao lado da vida eterna, do Céu, do Nirvana, da Clarividência, da Paz. — Olha! A luz do sol encontrou caminho por entre as nuvens e agora bate forte nas fachadas claras, a delinear sombras profundas e bem recortadas. Proponho deixarmos aos filósofos o filosofar. Tintim! |
Mon, 4 Dec 2017 17:50:31 -0200 E este meu irmão escreve mesmo muito bonito. sem assinatura Oi, Mano! |
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