foto de 5 de dezembro de 2015

Nada a destacar

14/05/18

Nada a destacar. Nos plúmbeos anos da tirania militar, durante a ditadura maior do século passado, generais, almirantes e brigadeiros com seus céus repetiam, para ávidos repórteres, à exaustão: "nada a declarar, nada a declarar, nada a declarar" enquanto abriam caminho com bordoadas do monótono bordão a ignorar a eventual curiosidade do povo, como se fossem eles, debaixo de seus galões e insígnias, seres oniscientes, além de todo-poderosos. Eu nada destaco neste 133° dia de 2018.

Seguimos como ontem, anteontem e cada dia precedente. Sempre fui limítrofe em História, passava com quatro, no máximo cinco, e não saberia retroceder através dos séculos e milênios a enunciar a humana mesmice. E, assim como a gravidade requisita inexoravelmente toda massa desde sempre, os Homens se repetem nos mesmos hábitos e na inevitável repetição do funcionamento de seus corpos.

Desde a juventude, impressiona-me (e me diverte!) imaginar reis e rainhas precisarem, como qualquer pária, de se alimentar e, em consequência, defecar as sobras de suas digestões todos os dias. Como assinalou Einstein, a simples existência de nossos estômagos nos obriga às misérias inevitáveis da obtenção de comida e o corpo segue sua sina para a digerir e aproveitar, descartando o inapropriado.

Os políticos cuidam dos assuntos em evidência, assim como seus predecessores se ocupavam do relevante em sua época. O cardume reage em bloco e se prepara para outro circo máximo quando, por toda parte, se falará de futebol. A circense Copa do Mundo estimulará a competição, o antagonismo, de um mundo repartido em incontáveis nações, zelosas cada qual do próprio nacionalismo, a opô-la contra cada uma das outras. Determinado por vultosas somas e indecifráveis interesses cada peixe se sentirá, então, um torcedor.

De fato, nada a destacar.

Tue, 15 May 2018 18:19:41 -0300

vc viu que tem um “d” sobrando no primeiro “nada a declarar”?
Você chegou a ler aquela crônica do Marcelo Rubens Paiva sobre sociedade cardume? Pergunto porque você usou a imagem “cardume”.

      sem assinatura

Não! Não tinha visto, não.
Obrigado? corrigido.
Não sei mais se li ou não a crônica do cardume. Se li, esqueci.
É uma imagem óbvia demais...

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