Uma ideia borboleteia nesse espaço incerto a que chamamos mente. Desaparece, volta, passa em voo incerto, suficiente para a rotularmos com um ambíguo 'interessante'. Ocupado em afazeres triviais, distrai-se o pensamento e o brilho azul daquela ideia esvanece já, prestes a se eclipsar na negridão do esquecimento.

Implacável, o tempo escorre da ampulheta universal. Agora resta a consciência do voo da tal borboleta azul, inalcançável para sempre, pela eternidade que resta àquela mente. Apaga-se a lembrança da ideia sedutora. Diante da tela em branco a mão tamborila leve, sem nada rabiscar. Foi-se mais uma ideia eventualmente capaz de provocar outra fagulha de paixão, de sugerir a possibilidade, ainda, de uma ebulição de vida... Vai-se, como espantoso arrebol.

Se não sabes, não te amofines em busca do dicionário: arrebol é tão só a cor avermelhada do crepúsculo ou a hora em que o sol está surgindo ou sumindo no horizonte. À frente do computador, brincamos com palavras na caça da borboleta perdida.

feito com um mini-programa do Vi

Avulta outro lepidóptero e a cada mariposa ou borboleta segue-se outra e outra mais rumo ao ponto de fuga da imaginação. A cada uma adia-se a anotação até sumir da memória a ideia a se anotar. Sombreia-se a paisagem sob o vulto das precariedades senis mas, a divisar o longe, assim escaparam supostas ideias brilhantes na juventude, onde brotavam com prodigalidade para a escusa de as perder em profusão.

Pode não se tratar, ainda, da diluição final do pensamento, talvez não passem mesmo de ideias idiotas, bobagens indignas de qualquer nota. No mundo impalpável do devaneio, da imaginação, da fantasia tecida pelo pensar perdem-se ideias como se perdem pingos num temporal, cada um a refratar uma paisagem única para cada espectador.

Esqueci cada coisa que me pareceu digna de anotar. Nada a declarar.