Coquinhos se esparramam pelo piso de cimento e degraus da escada. Amarelos, mais ou menos do tamanho de bolas de gude e, apesar do cenário tão diverso, pareceram-me os mesmíssimos de minha infância. Como aqueles que, então, vendia seu José da quitanda da esquina por um centavo cada. (Não lembro de outra mercadoria trocada por um centésimo da moeda em voga, neste caso, pelo centavo do velho cruzeiro de meados do século passado, nem da cara daquela moeda com a unidade como coroa). Ao ver os frutos logo me veio o nome que lhe dávamos à época: coquinho-de-catarro. Ao saber o fruto assim designado, ela reagiu com repugnância: Que é isso! Que horror! - e fez cara de nojo. Não sei se sua reação ou minha idade pôs em dúvida a nomenclatura de uma lembrança tanto tempo depois. Como garantir, hoje, se algo é fato ou efeito de devaneios, fantasias ou imaginação? Em casa, o Aurélio me confirma e o Houaiss o endossa: existe o coco de nome feio: coco-de-catarro - Substantivo masculino. 1.Bras. N. a L. Bot. Espique ornamental, da família das palmáceas (Acrocomia sclerocarpa), de fruto drupáceo, comestível, amarelo-pálido, de aroma agradável, flores monóicas, suavemente aromáticas e amareladas; coco-baboso, coco-de-espinho, coco-macaúba, macajuba, macaibeira, macaúba, macajá, macaíba, mucajá, mocajá, bocaiúva. [Pl.: cocos-de-catarro.] Crianças usávamos o diminutivo, quer para abrandar a aversão ao nome, quer pela pequenez do fruto - coquinho-de-catarro. Melhor seria coco-de-tostão, o apelido daquele centavo, valor do coco, equivalente em priscos tempos a cem réis de um real outro de sabor imperial... Coco-de-tostão, por que não? Pelo menos mais digerível. Questão de nominar, dar nome - do eu te batizo, locução quase nome, em si, de uma firma de dar nomes, a bois ou cocos, idéia de um amigo exímio nominador. |
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