Splash - taí uma palavra que não sei traduzir. A primeira tradução em meu caminho sugere respingo. Ora, qualquer um vê sem esforço a enorme diferença entre splash e respingo - o respingo, digamos, de um sorvete de chocolate é bem diferente do splash do mesmo sorvete em sua camisa branca, não? A tradução online do Google é mais palavrosa: borrifo, salpicadura, salpico, pancada na água, chape ou pó de arroz. Apesar de prolixo, não me traduz, de fato, o splash. O Travlang dá sugestões que me parecem mais distantes: bater, estalar, marulhar, patinhar. Tradutore traditore, ainda que involuntário. Aconteceu assim: um tropeço ao me aproximar da mesa levou um grande gole de café preto a saltar da caneca para o chão. A mancha tachista emporcalhando o chão me trouxe de pronto o splash, não só a palavra inglesa, mas também seu som e onomatopaicidade. Então, busquei um equivalente em português, antes de pegar um pano para apagar do piso o feio sinal do tropeção. É-me impossível mencionar uma topada sem lembrar de outra. Estava morando sozinho havia pouco tempo, quando meu filho veio visitar pai e, mal entrávamos no apartamento acanhado, dei uma topada no pé de um móvel, uma daquelas terríveis, em cheio no dedo mindinho. Gritos e vociferações nessas horas aliviam, talvez tenham até efeito analgésico. No fim de muita xingação cheia de imprecações, blasfêmias, impropérios e maldições contra quem mudara o móvel de lugar... meu filho, com toda calma, observou: só pode ser você, morando sozinho e sem empregada. Quem mais? Sem topada, com apenas um tropeço e sem dor, a revolta se virou para o respingo de café no chão, respingo, não, splash intraduzível ao pé da mesa branca. Há neste sítio uma pequena lista de palavras difíceis de traduzir. Nasceu há doze anos e ficou abandonada e hoje evocada pelo splash no chão. |
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