Noroeste

16/12/11

O vento marca sobremodo esta sexta-feira. Provoca nas folhas um rumor incessante que se sobrepõe e cala outras vozes. Borboletas e outros insetos não se aventuram nas lufadas mais fortes. O inpe-cptec confirma direção e velocidade: noroeste, 25 km/h. Grandes nuvens brancas bailam no azul e o tempo se abre e se fecha continuamente, alternando sol forte e luz difusa com ausência de sombras.

De tempos em tempos, uma calmaria, mas para logo voltam as rajadas fortes. Gosto de vento seco como este, seco e quente. Mas é sua direção que me trouxe à pena - sabemos que há muito não as usamos mais, sejam as de aves ou as metálicas das canetas-tinteiros mas, desmaterializadas, tornaram-se encantadoras metáforas - trouxe-me à pena, eu dizia, a direção do vento, noroeste, e eis a história que ela me relembra.

Recém chegado a essa terra paulistana, conheci uma senhora, com quem tive um único e rápido encontro, pois se encontrava com forte enxaqueca, mal que ela atribuía justamente ao vento noroeste. Eu nunca ouvira menção explícita a tal vento - no Rio, é comum maldizer o sudeste, portador de muita umidade - e, muito menos, poderia imaginar consequências mórbidas de um simples deslocamento de ar. Naquele dia remoto, até onde me lembro, não tinha vento forte.

Tratava-se da mãe de uma amiga de uma minha amiga e, como disse, nunca mais nos vimos, mas ela desceu de seus aposentos na casa suntuosa, com um lenço na mão e, talvez, um xale - não estou certo, lá se vão mais de 40 anos! Ela se desculpou por seu estado com a explicação de passar mal sempre que soprava o noroeste.

Se ela - nem seu nome me ficou! - se ela ainda viver, deve estar se sentindo péssima hoje. Aqui, continuam a se suceder sol e nublado claro, assim como as calmarias se intercalam aos sopros fortes do noroeste.

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